Rose Mary Lopes
O sucesso estrondoso da mostra Castelo Rá Tim Bum no Museu da Imagem e do Som em São Paulo, com apoio da TV/Cultura e Fundação Padre Anchieta, celebrando os 20 anos do início da série de programas infantis, mostra o potencial desta inovação brasileira na área de entretenimento.
O Museu já teve que ampliar os horários de visita à exposição, as pessoas chegam de manhãzinha para poder adquirir os ingressos, e muitos não se conformam com o fato de já não mais poderem adquirir os ingressos pela internet (posição do Museu para evitar os cambistas).
Ou seja, se repete o sucesso da série que na época de sua exibição na TV, garantia recorde de audiência para um programa educativo focando no público infanto-juvenil, e que foi ao ar de maio de 1994 a 1997. E, o Castelo recebeu diversos prêmios, até no Festival de Nova York. Foi mostrado pelo canal a cabo Nickelodeon para a América Latina.
O Castelo se inspirou em programa anterior da mesma TV Cultura o Rá Tim Bum e foi posteriormente sucedido pela Ilha Rá Tim Bum. Ou seja, uma temática que se estende em uma série de programas para o mesmo público. E, que possibilitaram também a exploração de licenciamentos de diversos produtos como livros, vídeos, jogos e objetos diversos.
Por trás destes sucessos figuram o roteirista e ator Flávio Henrique de Souza Haar. Aliás, na sua obra constam diversos sucessos na TV além do Castelo, o Rá Tim Bum, a Ilha Rá Tim Bum e Mundo da Lua. Em 1996 foi roteirista do também famoso programa de humor o Sai de Baixo (da TV Globo). Tem diversas incursões no cinema com diversos filmes da Xuxa.
Ou seja, um talento para ninguém botar defeito! Com imaginação prodigiosa. E, que juntamente com o diretor Cao Império Hamburguer, também roteirista, cineasta e produtor cinematográfico, fizeram uma dupla incrível que povoaram a imaginação da criançada (será que só delas?).
Posteriormente ao Castelo na TV, Cao dirigiu o filme com o mesmo nome, que foi escrito por Anna Muylaert. Foi um dos filmes mais caros da cinematografia brasileira: R$ 7 milhões. Estreou em 1999, e que ficou em segundo lugar em bilheteria na época.
Agora, imaginem se eles fossem americanos. Se a série tivesse sido exibida em alguma TV americana. Se o filme tivesse sido produzido e lançado lá… Com todos os ingredientes de um garoto aprendiz de feiticeiro (Nino), que tem 300 anos, que vive com o tio (Dr. Victor) que é um misto de cientista e feiticeiro e a tia-avó feiticeira de 6000 mil anos de idade (Dona Morgana)…
Vivendo no meio de São Paulo num Castelo povoado com animais, monstros, cobra, gralha, ratinho, passarinhos, boneco locutor de rádio, par de botas gêmeas, fantoche de dedos, gato leitor de livros e controlador da biblioteca, fadas boas, planta carnívora, um transmissor de cinema antigo, livro falante etc.
E, que recebe visitas diárias de três amiguinhos: Zeca, Biba e Pedro. E outros visitantes que incluem tipos muito interessantes: o jovem negro Bongô (entregador de pizzas), a Caipora (retirada do nosso folclore) e Etevaldo que veio de outro planeta e se move por teleporte.
Se não bastassem estes ingredientes para construir boas estórias, acrescente dois irmãos gêmeos e cientistas malucos Tíbio e Perônio e a repórter Penélope. E, para apimentar as tramas, há o obcecado corretor imobiliário Dr. Abobrinha que quer a todo custo adquirir o Castelo para erigir um enorme prédio de 100 andares com estacionamento no local.
Creio ser desnecessário dizer que os americanos teriam criado um imenso e fabuloso parque temático que exploraria todos os recantos e encantos das estórias e tramas vividas com os personagens do Castelo. Usando recursos de ambientação, cenografia, simulação, interatividade, música, automação etc.
E criariam inúmeros shows com os personagens, oferecendo a oportunidade das crianças visitantes até figurarem e contracenarem com eles. E, oficinas temáticas, aventuras especiais, visita aos estúdios da TV Rá Tim Bum etc.
Não parariam no Castelo. Criariam o mundo Rá Tim Bum, com a Ilha é claro, e outros itens… floresta Rá Tim Bum, navio Rá Tim Bum… Sem contar nos inúmeros produtos licenciados com a marca Rá Tim Bum.
Parece que nos falta maior arrojo e visão empreendedores para ver esta e outras possibilidades para criar nossos próprios parques temáticos – a obra de Monteiro Lobato é outro manancial – e nos divertirmos com entretenimento genuinamente nacional, sem exportação de divisas!