Por Pedro de Santi
A pesquisa do IBGE sobre transformações recentes na estrutura familiar chamou a atenção de muita gente. O modelo mais nuclear (com pai, mãe e filhos) vai sendo substituídos por novas configurações familiares. Maior proporção de mulheres como provedoras da família, menor número de uniões formalizadas, maior número de casais sem filhos e maior número de divórcios. Famílias recompostas enfrentam a convivência de referências sobrespostas: meio irmãos oriundos de uniões distintas do pai e/ou da mãe; crianças que tem a dupla referência de um pai e um padrasto e/ou mãe ou madrasta.
Que consequência isto tem para sociedade, em termos macro, e para as crianças em constituições, em termos micro?
A vida social e as modalidades de intimidade estão sempre em movimento. Em determinados momentos, determinados estados podem parecer estáveis por algum tempo e chegarmos a nos esquecer da dinâmica intrínseca ao tempo e às relações humanas. Parece que as coisas sempre foram de uma determinada forma e só recentemente entraram em transformação.
Assim ocorre com o modelo da família nuclear, que ora vemos em transformação. Na realidade, o modelo nuclear é relativamente recente (talvez, coisa de cem anos). Nossos avós ou, no máximo, bisavós provavelmente cresceram em lares que contavam com avós, tios e outros membros da família, além do pai e da mãe. A família já foi uma entidade composta por muito mais membros e gerações, aliás, sem que se atribuísse tanta importância para os filhos. Estes têm se tornado os verdadeiros reizinhos da casa recentemente (admito, em parte por nossa culpa, psicólogos).
Da perspectiva psicanalítica, o que importa é que ao longo da mobilidade dos modelos preservem-se as funções familiares de cuidado e inserção na vida social, com suas leis e condições de convívio. Não faz diferença estrutural quem faça o papel, ou mesmo que mais do que uma pessoa o faça. O que preocupa é o esgarçamento dos laços simbólicos sociais, e não a preservação do papel de pai ou mãe.
Por fim, chama a atenção outra informação: há um leque mais amplo de modelos familiares e, ao mesmo tempo, a busca por parceiros com identidade de condição. Isto remete ao reforço da identidade: busco afirmar meu desejo próprio e a companhia de quem compartilhe meus valores.
Tolerância com a diversidade em termos públicos, intolerância em termos privados?