Heroísmo norte-americano: um tiro pela culatra

Por Armando Tadeu, professor do Intergraus Vestibulares
Não só os norte-americanos tentam explicar os motivos que levam cidadãos daquele país a praticarem tragédias como a da escola primária Sandy Hook, em Newtown, no estado de Connecticut em dezembro de 2012. Tragédias como esta ou de menor abrangência ou repercussão não são sazonais e ocorrem nos Estados Unidos, bem como em outras partes do mundo. Porem esse tipo de evento estadunidense chama a atenção em função da certa freqüência e dimensão das ocorrências.
O debate, não só nos Estados Unidos, mas em outras localidades giram, principalmente, em torno de dois pontos: a facilidade de acesso às armas na terra de Tio Sam e os violentos jogos de videogames a disposição das crianças. Nesse debate há discórdias e concórdias, teses e antíteses a respeito desses dois pontos amplamente discutidos por especialistas e especuladores, que têm ou não seu fundo de verdade.
Uma cidade do estado da Geórgia, por exemplo, criou uma lei simbólica obrigando todo cidadão o portar armas, medida adotada como forma de inibir a bandidagem e possíveis atos trágicos. Por outro lado o presidente Barack Obama incumbiu seu vice, John Baden, de criar mecanismos jurídicos de restrição às armas para serem apreciados pelo Congresso e que foi prontamente rejeitado pelo senado, apesar dos apelos de mais de 90% da população. A segunda emenda da constituição norte-americana garante o porte de armas para todos os cidadãos, dificultando a adoção de medidas restritivas.
No caso dos videogames de características violentas a quem diga que influenciam na formação da personalidade causando desvios de conduta. Mas também há a opinião entre psicólogos e psiquiatras que crêem que videogames violentos não formam assassinos, como é o caso de Karen Sterheimer, socióloga da Universidade de Southern California que pesquisa este assunto desde 1999. Ela diz que culpar os videogames pela violência dos jovens é no mínimo irrisório por não considerar outros elementos importantes na formação da personalidade. Sterheimer se interessou pelo assunto após especialistas terem atribuído ao videogame “Doom” a inspiração para o ataque a tiros contra a Columbine Higt School.
No entanto, perambulando por ai, li ou ouvi um artigo curioso sobre a questão (infelizmente não me lembro mais a fonte) que aponta para uma terceira possibilidade. Se trata do imaginário que os norte-americanos criaram em torno da sua invencibilidade e poder. Partindo da Doutrina Monroe (“A América é para os americanos”), e passando pelo “Big Stick” e pelo “Destino Manifesto”, os Estados Unidos foram formando sua imagem imperialista e depois de duas guerras quentes (a de 1914 e a de 1939) e uma Guerra Fria assumiram a condição de “xerifes do mundo”.
Essa imagem foi também construída pelas produções hollywoodianas como Armageddom, filme no qual a NASA evita que um asteróide colida com a terra exterminando a humanidade. O invencível herói Capitão América, bandeira do patriotismo norte-americano, e porque não citar os heróis da Liga da Justiça (Super Homem, Bat Mam e Mulher Maravilha) são também símbolos de poder e luta contra agentes do mau. Esse ambiente de valimento, privança e dominação, segundo o artigo, pode inspirar desequilibrados a prática da violência combatendo supostos inimigos pelas ruas, cinemas, escolas e empresas.
O heroísmo norte-americano pode ser uma arma apontada para eles próprios, propõe o artigo, e instiga o subterfúgio de seu atual inimigo, o terrorismo, perigo invisível muitas vezes só identificado após uma explosão.

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