Hasta la vista, smartphone!

Por Tiago Pereira Andrade

O longa “Exterminador do Futuro II” de 1991 do cineasta James Cameron, denotava uma discussão recorrente da sociedade moderna: Homem vs. Máquina. A máquina nos encanta enquanto avanço tecnológico para facilitar o acesso às nossas necessidades, nossos desejos, nosso conforto, nossa proteção e poderíamos categorizar aqui inúmeras razões para amá-la. Ao mesmo tempo a máquina aterroriza nossos pensamentos: primeiro com a ideia que geraria desemprego, substituindo os homens por robôs nas diversas formas de trabalho. Depois nos alimentamos de desprezo por ela quando dependemos das mesma para cumprirmos nossos compromissos: falta-se luz e não salvei o trabalho; a internet travou e preciso de uma informação; “Senhor, estamos sem sistema!”; o carro pifou; o sinal da televisão desapareceu na hora do pênalti.

Dentre diversas ideias que elaborei para este texto, resolvi falar sobre a relação Homem e Máquina por um simples fato – hoje, esqueci meu celular.

Comparo de forma ousada – para quem se lembra do personagem de Arnold Schwarzenegger – a minha relação com meu celular, de amor e ódio, assim como era a relação do personagem John Connor com o Exterminador.  Connor sabia que precisava dele, mesmo querendo não precisar, e chegou a desenvolver afeto por ele. Amor pelas facilidades e ódio pela dependência que criamos ao nos acostumar com estas facilidades, criando inclusive afeto pelo nosso gadget.

Sei que dramatizei, exagerei. Mas a intenção era mostrar de uma forma lúdica um sentimento egoísta que admito possuir – e que muitos de nós possuímos – com um aparelho eletrônico. É um sentimento egoísta pois através da interação com o smartphone, deixamos de sociabilizar diversas vezes com quem exige nossa atenção. Consultamos notícias e respondemos mensagens perante amigos, chefes, professores, namoradas(os), familiares, autoridades, durante shows, palestras, filmes, noites de sono.

Não precisa ser professor, acadêmico ou sociólogo para se incomodar com a pessoa com a qual conversamos ou ministramos uma aula que fica o tempo todo olhando para a telinha. Basta se colocar no lugar do outro para percebermos que isto é falta de respeito. E se mesmo sabendo que estamos desrespeitando o outro, continuamos com este hábito, temos que admitir que este hábito se tornou um vício.

O bar paulistano Salve Jorge, criou um copo com uma ranhura que só fica parado na mesa se apoiado no celular. Uma foto de um estabelecimento é recorrentemente compartilhada no facebook com os dizeres “Não temos Wi-Fi, converse com a pessoa do lado”. Alguns professores, de forma compreensiva e justa, expulsam da sala os alunos que utilizam os aparelhos durante a aula.

Indico o livro Polegarzinha de Michel Serres que aprofunda sobre o tema deste artigo e remete a ideia da lenda do Bispo São Denis de Paris, que ao ser decapitado, carrega sua cabeça nas mãos. Será que os celulares não estão nos transformando em personagens como esse?

Pois bem, odiamos o gadget… o do outro… Mas amamos o nosso! Somos egoístas, e viciados… Decapitados… Será que vale uma reflexão?

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