Há escuta em sua organização?

Victor Richarte Martinez

Tema central do meu doutoramento em 2013, ao lado do estudo das diversidades, a voz e a escuta são tópicos ainda pouco presenciados nas organizações em que estou como prestador de serviços. Muito se propaga sobre voz aos funcionários, mas o que mais se observa é o retraimento deles em seguir com essa iniciativa pela sensação de não ser escutado. Quem nunca viveu o incômodo de não ter sua fala ouvida?

Perceber um espaço de voz na empresa é registrar que suas ideias, personalidade e contribuição são válidas, mesmo discordando de alguns pontos. Pegando carona com Honneth, essa atenção respeitosa é uma forma de reconhecimento e facilita o engajamento. Mesmo parecendo óbvio, pouco se pratica.

Esse espaço pode ser aprimorado com as portas (e o coração) abertas do RH e de cada gestor no dia a dia. Além de canais de ouvidoria, o RH deve ser associado como acolhida aos funcionários, não como instância de despacho documental. Um RH com pessoas simpáticas que ouvem performaticamente (há, inclusive, workshops de como escutar ativamente), mas nada prosseguem é um feedback que os funcionários registram como “isso é para inglês ver”. E, pior ainda, quando se sabe de retaliações contra quem foi falar.

Como gestor, importante treinar a escuta ativa e a criação de um ambiente de expressão de todos os funcionários, respeitando as particularidades de cada um. Importante ressaltar aspectos da cultura brasileira que dificultam um melhor encaminhamento dessa questão. Crenças como “se sou gestor, devo dar a resposta correta”, “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, “você sabe com quem está falando?”, levam a atitudes de bloqueio da expressão e atuam na contramão das competências gerenciais atuais. Essa criação de espaço é uma ferramenta gerencial essencial nos tempos atuais, em que as novas gerações demandam um ambiente de participação e de escuta.

A escuta demanda ação. Nada feito é um recado de ação. Responder à demanda, mesmo com uma negativa, é uma forma de respeito e reconhecimento ao funcionário e evidencia maturidade nas relações de trabalho protagonizada pelo posicionamento organizacional e gerencial.

Por isso, a questão crucial é: nesta cultura organizacional, qual o espaço para a voz dos funcionários? E existe escuta?

E na empresa em que você está agora, sua voz é escutada?

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