Pedro de Santi
Nas últimas semanas, passei a cumprimentar as pessoas desejando-lhes feliz ano novo e, mesmo, feliz natal. Este fim de semestre em muitos aspectos está mais com cara de fim de ano. Para além do clima de finalização e proximidade de férias, normal na vida escolar e universitária no mês de junho, há uma urgência no ar.
É como se absolutamente todas as pendências precisassem ser resolvidas até o dia 11 de junho, véspera da abertura da copa. Reuniões, almoços de amigos e família, fechamento de notas e agendas. Tudo remete ao dia 24 de dezembro; só faltou o amigo secreto, substituído pelos bolões.
Aliás, preciso consultar meu advogado para saber se posso usar o termo “copa”. Será mais seguro dizer “Taça global de Pindorama”? Será que o clima de fim do mundo também tem a ver com isso? O regime de exceção criado pelos organizadores internacionais do evento (não ouso dizer seu nome, como se faz com o Diabo, em “Grande sertão, veredas” ou com o Voldemort, em “Harry Potter”) vai criar uma ruptura na legislação do país em torno dos estádios e no direito a usar certos termos cotidianos, agora patenteados.
Paradoxalmente, não parece que estejamos num clima de copa realizada no Brasil. Diz-se até que alguns lojistas temem enfeitar seus estabelecimentos pelo clima anti-copa.
De toda a forma, parece que a vida vai ser suspensa do início da…supra-citada até o início de agosto. Um mês e meio de vácuo.
Agora, se não tivermos o fim do ano em junho, ele não há de demorar. O apocalipse também já foi anunciado para outubro, quando acontecerão as eleições presidenciais. Um amigo jornalista, um certo Leonardo Trevisan, contou ter dado uma palestra falando sobre o clima catastrofista associado aos resultados das eleições. O “mercado” (outro termo mágico) conta com terríveis dificuldades para o país se Dilma for re-eleita. 2015 é anunciado como um ano negro. Por outro lado, a propaganda do partido da presidenta planta também o medo da perda de todas as conquistas sociais obtidas nos últimos dez anos, caso a oposição (que oposição?) seja eleita. Ou seja, as campanhas não parecem ter nada de muito positivo e propositivo a dizer e só investem no medo da vitória do adversário.
Como só parece que as coisas estão acabando e nada começando, a presidente cai nas pesquisas e os outros candidatos não sobem. Vai aumentando um vazio de expectativas. Também não parece haver clima e a copa estar apenas servindo de desculpa para o desinteresse nas eleições. Isto sim é preocupante.
É muita vontade de que tudo acabe, não? Às vezes, de tanto cansaço e falta de alternativas, um diabinho na gente anseia por botar tudo para quebrar e o fim do mundo parece uma boa. Até dá para entender e compartilhar do desejo por um fim, mas sempre que embarco nesta onda, lembro-me da voz de Carmen Miranda cantando um trecho do samba “E o mundo não se acabou”, de Assis Valente:
“Beijei na boca de quem não devia
Peguei a mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou”.