Empreendedorismo século XIX

Heraldo Bighetti Gonçalves

Uma infinidade de produtos surgiu durante e após o fim da Guerra Civil, graças a empreendedores que aproveitaram a melhoria de estradas e o aumento da capacidade produtiva que a revolução industrial trouxe. O crescimento econômico também incentivou o aumento de consumo. Esses novos fabricantes de repente viram-se longe do consumidor. Antes, ele vivia na cidade onde estava a fábrica, mas com o excedente de produção novos consumidores deveriam ser encontrados. E onde eles estavam? Espalhados por todo o país e, dependendo da localidade, com suas próprias manias e necessidades. As pessoas daquela época, como as de hoje, procuravam novidades tecnológicas para suavizar seus afazeres diários. Portanto, grande parte desses novos produtos era voltada para o consumo doméstico que, ao contrário dos elixires, mostravam resultados.

E os produtos iam surgindo. Em 1865, um farmacêutico de Indiana lança o pó Royal, o mesmo fermento que você conhece até hoje. Foi o primeiro anunciante a colocar uma foto de seu produto em um anúncio, junto do slogan ”Absolutamente puro”. Graças ao uso de propaganda, o produto fez muito sucesso. O investimento em anúncios de jornal, cerca de seiscentos mil dólares por ano, chegou a ser o maior orçamento publicitário da época.

Outro sucesso surge com a Enoch Morgan’s Sons, uma empresa de Nova York que fabricava uma pequena pedra de sabão cinza para limpeza pesada do chão. O dono achou que o novo produto deveria ter um nome, mas nada lhe ocorria. Ele teve uma idéia, chamou o médico da família e pediu que ele desse um nome para o novo produto e que fosse em latim. O médico disparou rápido: Sapólio.

O início de sua divulgação foi através de folhetos cujo texto vinha em versos criados por um tal de Artemus Ward. Esse faz-tudo do entretenimento criou uma história mirabolante que envolvia mistérios do antigo Egito e uma frase mágica: Oilopas Esu. Percebeu? Ao ler o texto ao contrário temos Use Sapólio lido ao contrário. Claro que essa, por assim dizer, forma criativa de mensagem encantou as pessoas e tornou o produto um sucesso ainda maior. Sapólio era anunciado nos bondes (um grande veículo na época) e jornais do interior. Quem chegasse a Nova Iorque na época veria um painel de mil pés, ao lado do cais de desembarque, incitando a compra de Sapólio para manter o mundo limpo. Tudo obra do incansável Ward.

Por falar em limpeza, os sabões para lavar as mãos e tomar banho na época eram perecíveis, o que impossibilitava sua distribuição nacional. O problema estava que na sua composição entrava gordura animal, pobres cachorrinhos. Mas um empreendedor passou a utilizar a gordura vegetal, além de acrescentar perfume, criando um novo sabonete que passou a conquistar todo o mercado norte-americano. A história começa com a família Procter que tinha uma fábrica de sabão e de velas em Cincinnati. Lá surgiu aquele que talvez tenha sido o primeiro sabonete. Já sabemos que muitas das grandes descobertas aconteceram por acaso. Assim, reza a lenda que um lote desse novo produto ficou muito tempo sendo misturado, o que ocasionou o acúmulo de bolhas de ar na massa. O resultado foi que, depois de pronto, o sabonete flutuou na água. Uma inovação acidental que se tornou um ponto de venda. Harley Procter buscava um nome para o branco sabonete, quando ouviu na igreja uma passagem de um Salmo que dizia… “ e tuas vestes cheiravam a mirra, a aloés, e a canela, retirados dos palácios de marfim (ivory) por meio do qual ele havia feito tua glória”. Em 1882 foi lançado Ivory com o slogan “Ele flutua”. Daí para a gigante Procter & Gamble foram só algumas décadas.

A publicidade tenta mudar sua imagem graças a esses e outros produtos que prometiam e entregavam benefícios. Bem diferente dos remédios patenteados que prosperaram graças a exageradas declarações e promessas não cumpridas. Adivinha com qual imagem ficamos até hoje?

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