Por Rose Mary Lopes
Quem de nós já não se deliciou com iguarias típicas daquela cidade ou região que visitamos? Quem já não recebeu como lembrança de parentes ou amigos que viajaram um bolo de rolo de Recife? Um pé-de-moleque de Piranguinho? Um pacote da amarela farinha d´água de Carema?
Pois é, o país tem muitas delícias. Graças a Deus e aos empreendedores anônimos ou não que as produzem. Mas, muitas vezes não paramos para nos dar conta de que somente as podemos saborear graças a seus esforços. E raramente temos a curiosidade de saber quem estaria por trás, por exemplo, da cajuína do Piauí, ou da carne de sol de Caicó (RN), ou do doce de espécie de Alcântara (MA).
Que tal conhecer algumas destas histórias empreendedoras?
Iniciando pelos doces de Piranguinho (MG), sobretudo da famosa Barraca Vermelha®. Cidade pequenina, na Serra da Mantiqueira que ignorada ficaria não fossem os pés-de-moleque.
Hoje, há uma série de barracas que vendem essas delícias. Todas elas com nomes de cores: amarela, branca, azul, laranja etc. . Há turismo na cidade e a compra dos produtos geram centenas de empregos. A cidade se tornou “Piranguinho, a capital nacional do Pé-de-Moleque”.
Mas, como isto começou? Em 1932 um Modesto Torino, chefe de estação de trem, é transferido para lá. Para engrossar o orçamento da família sua esposa Da. Matilde Cunha Torino, em 1936, começa a fazer os pés-de-moleque caseiro misturando os amendoins com rapadura.
E, o canal de vendas eram os trens de passageiros que lá passavam. E, o pé-de-moleque foi saboreado e divulgado por eles.
A receita melhorou, e os pés se tornaram mais saborosos. Só que o Brasil toma a decisão de extinguir a rede ferroviária.
Poderíamos pensar que isto seria o tiro de misericórdia nos pés-de-moleque e do empreendimento caseiro familiar da Da. Matilde e sua filha Alcéa Cunha Torino, que já estava à frente do negócio.
Entretanto, empreendedora que é empreendedora busca uma alternativa. E, esta veio com o funcionamento da rodovia BR459. Uma barraca para vender os pés-de-moleque às margens da rodovia foi a solução. E, os pés viajaram pelo Brasil!
A demanda ampliou-se, a produção idem, e Alcéa cuidou de patentear o nome e origem do Pé-de-Moleque de Piranguinho e de sua Barraca Vermelha®. E, de ampliar o leque de produtos.
Atualmente, a sobrinha Sônia Torino e Da. Alcéa gerem o negócio que, logicamente, foi imitado por outros empreendedores com suas coloridas barracas.
Para se manter à frente renovaram a marca e sua identidade visual, ampliaram a estrutura de atendimento da Barraca Vermelha®, zelando pela tradição, qualidade e comprometimento com todos que apreciam suas delícias.
Mudando para outro estado. A cajuína, tradicional do Piauí, é um suco transparente e leve de caju, sem gás e tanino, que se encontra hoje nos supermercados do Sudeste.
Quem prova pela primeira vez a cajuína tende a gostar: o índice de aprovação é de 80%.
Consta que há 400 fábricas que o fabricam, com volume de 4 milhões de garrafas ao ano.
Mesmo com esta competição acirrada, a oportunidade de se diferenciar com a cajuína orgânica foi aproveitada por Josenilto Lacerda Vasconcelos, engenheiro agrônomo, que defende o posicionamento da cajuína entre os alimentos funcionais, pois tem cinco vezes mais vitamina C do que o suco de laranja, além de cálcio, fósforo, ferro e outros nutrientes.
Seu sucesso se deve a muitas experimentações. Sua cajuína é produzida a partir da mistura de três espécies de caju, conseguindo um suco de sabor delicado e diferenciado em relação ao dos competidores.
Sua cajuína orgânica certificada atinge preços 20% maiores do que a dos concorrentes.
Existem inúmeras delícias cujas histórias empreendedoras poderiam ser abordadas. Mas, fique o gostinho de quero mais e até a oportunidade para outros empreendedores comercializarem estas delícias brasileiras.
Fecho com as lições de persistência, de busca de alternativas e de qualidade, além da visão empreendedora para posicionar seus produtos e empresas como os melhores. Tornando-se sinônimos de suas cidades e regiões.