Elle (Direção: Paul Verhoeven, França, Alemanha, 2016)

Eduardo Benzatti

Freud dizia – de outra forma, é claro – que no fundo, no fundo, só dois grandes assuntos interessam a humanidade: o sexo e a morte. “Elle” começa numa cena de estupro e termina num cemitério. Da cena inicial até a final, Eros e Tânatos estão o tempo todo presentes e ligando um ao outro temos a perversão como o fio condutor da vida da protagonista (Michèle – que só poderia ter sido interpretada por Isabelle Huppert, com sua fria beleza!).

O filme não propõe refletir sobre as razões (psíquicas ou não: “desvios sexuais”, fetiche, deformação do caráter, “simplesmente” desejo) que levam alguém a cometer violência sexual contra outra pessoa e, muito menos, explicar o porquê de alguém sofrer um estupro e não ficar traumatizado por isso. Até porque nesse enredo a protagonista nos mostrará que a traumas ainda mais graves – na sua vida – do que um estupro!

Michèle, de quase 50 anos, é uma “fêmea-alfa”: executiva de uma indústria de games (universo bem masculino) manda, desmanda, humilha seus funcionários – ao invés de demiti-los -; é mais “fálica” que seu ex-marido, despreza o pai, o amante… enfim, vive a vida desprezando, em especial, o mundo e o sexo masculino. De certa forma, se identifica com o pai e o seu destino.

Essa me parece a melhor forma de “ler” o filme – bom, pelo menos é a única que eu consegui para pensá-lo -, pois julgamentos morais, éticos, sociológicos, filosóficos não dão conta de explicar o pior do humano: a impossibilidade de sentir qualquer afeto pelo outro.

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