Educação para o consumo

Professor Pedro de Santi
Uma vez mais, nesta semana, virou notícia a questão difícil sobre como lidar com a propaganda que tem as crianças como alvo.
Em geral, esta discussão evoca duas posições extremas. De um lado, aqueles que consideram que a comunicação deva correr solta e que a própria sociedade é capaz de regular o que lhe convem e o que aceita. De outro, aqueles que consideram que as crianças devam ser preservadas de qualquer apelo publicitário, enquanto não tiverem condições de amadurecimento para discriminar as suas intenções.
A discussão é importante e coloca em jogo grandes concepções sobre ética, capacidade de escolha e educação.
Não há dúvidas de que é interessante para o mercado introduzir sua ação no ambiente infantil. Os pais são bem mais sensíveis aos apelos de seus filhos do que ao apelo direto da publicidade;  além disso, cultiva-se futuros consumidores. Algumas práticas neste sentido são consideradas abusivas: como a de lanchonetes que associam brindes a lanches. A legislação obriga estas empresas a disponibilizar para venda a parte os tais brindes, mas isto simplesmente não é comunicado ao consumidor. O mercado livre acaba sendo selvagem e não propicia auto-regulação.
De outro lado, pretende-se manter as crianças a parte de qualquer contato com a publicidade, através de escolas alternativas  e o controle dos hábitos familiares de consumo e exposição à TV e a internet. Isto não só é inviável, em termos práticos, como pernicioso. As crianças seriam criadas em redomas de vidro e não conseguiriam desenvolver qualquer preparo para vida real, com a superexposição a estímulos publicitários.  Ora, educação e maturidade não nascem naturalmente, pelo contrário, dependem intrinsecamente da exposição à vida.
A tarefa das famílias, de fato, tornou-se hoje mais difícil, na medida em que têm muito menos controle sobre as informações que chegam a seus filhos de todos lados. As crianças vão para escolas e creches cada vez mais cedo, as mídias de comunicação estão em todos os lugares.
 A tarefa de todos, família, escola, publicitários e do próprio Estado, é a de criar recursos para a educação: preparar as crianças para viver e conviver no mundo com os outros. Isto vale tanto para o consumo, quanto para a cidadania e a sexualidade. Difícil.

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