Edmir Kuazaqui
Num final de semana peguei o metrô e eram várias estações a serem percorridas. Sentei junto a dois jovens que, pelas vestimentas e cabelos do tipo heavy metal, vendiam uma imagem de despreocupação e até anarquia. Conversavam sobre algum assunto que não prestei atenção. Entretanto, num determinado momento, um perguntou para o outro como estava o curso de finanças e foi daí que tive a ideia de escrever este artigo. Simplificando a conversa:
“Ei, cara, como tá o rolê de finanças?”
“Manero, aprendi um tal de VPL, que é valor presente líquido … “ e começou a explicar para o outro como se calcula, para que serve, como se utiliza a calculadora financeira, entre outros, com seu linguajar particular.
Toda a minha formação é em Administração, da graduação até o doutorado e sou especialista em marketing internacional. Entretanto, pela formação acadêmica e atividades profissionais em consultoria, tenho de conhecer a administração e gestão financeira para sustentar minha argumentação de construção de estratégias em negócios internacionais.
O curioso é que embora o outro estava tentando ensinar o amigo em finanças com seu linguajar peculiar e com exemplos simples, consegui entender a lógica do que o professor estava ensinando bem como a absorção por parte do aluno. O detalhe importante é que embora eu já tivesse tais conhecimentos, a explicação do jovem serviu como uma espécie de revival de conceitos. Continuando o diálogo:
“Saca só, o professor não mencionou, mas tem também uma tal de TIR, que descobri que é taxa interna de retorno …”
“Parece complexo, não? Deve servir quem tá a fim de abrir um negócio próprio, não? Tanto o VPL como a TIR …”
“É isso aí. O profê falou que tem payback descontado, … perpetualidade … “.
Enfim, durante toda a viagem a conversa girou sobre os conteúdos de finanças. Outra curiosidade que me chamou a atenção foi a veemência na qual um explicava e o interesse do outro pelo assunto.
A minha reflexão é, em primeiro lugar, se com toda a nossa experiência acadêmica e profissional, aliado a um furor pedagógico em querer ensinar e educar, motivados, faça sentido no imaginário coletivo daqueles que necessitam construir conhecimentos para enfrentar os diferentes desafios pessoais, profissionais e sociais. Por vezes, por exemplo, ensinamos pessoas a serem líderes mas que, na maioria dos casos, estes são e serão sempre simples liderados. Não faz parte da realidade dos ouvintes.
Outra reflexão é a comunicação. As aulas tendem a conceituar, discutir e exemplificar teorias, fatos e situações, que visam contextualizar com a realidade. Tentamos mexer com o imaginário coletivo, usando instrumentos e ferramentas motivacionais que tentar motivar e construir habilidades e competências. Ou estamos tentando enquadrar pessoas dentro de modelos já existentes?
Partimos de experiências vividas, de erros e acertos e, desta forma, podemos construir instintivamente padrões e o estabelecimento de conceitos previamente aceitos. Esses pré-conceitos não são negativos, mas podem se tornar a partir do momento em que aplicamos os conceitos de forma equivocada.
À bem verdade, pareceu preconceituoso o inicio deste artigo, onde tento contextualizar meu ponto de vista com jovens utilizando “vestimentas e cabelos do tipo heavy metal”. Outro ponto forte é a questão de lideres e liderados, pois não é de nossa responsabilidade definir o que as pessoas são mas tentar transformá-las por meio do ensino e educação. O lívre arbítrio é direito de cada um.
Em suma, problemas e acertos sempre ocorrerão, pois tratamos com pessoas e relacionamentos. O grande desafio é se fazer entender e entender o que as pessoas tem a dizer.