Ana Lucia G R Lupinacci e Marcello Montore
Donald Schön, filósofo e teórico da educação norte-americano [Boston 1930-1997] teve sua formação em Yale e Harvard e, como professor e pesquisador, trabalhou no MIT entre 1968 e 1997. Seu trabalho está ligado ao campo do que vem sendo chamado de “experiential education”, onde nomes como John Dewey e Carl Rogers abrem e ainda influenciam discussões pertinentes e necessárias.
A preocupação de pesquisa de Schön se dá no desafio de reconsiderar a formação profissional, de forma a não opor o conhecimento técnico a um “talento artístico”, uma mestria, [artistry], descrito por ele como uma competência que abarca flexibilidade e cooperação e que estaria [ou deveria estar] no desenvolvimento profissional, independente da carreira adotada. Considerado seu trabalho seminal, The Reflective Practioner foi escrito por Schön em 1983, a partir de uma consulta e demanda da Escola de Arquitetura e Planejamento do MIT, tornando-se, depois, seu tema de doutorado e escopo de uma grande e aprofundada pesquisa. Alguns anos mais tarde, ele traria o conceito ao âmbito da educação/formação profissional, escrevendo Educating the Reflective Practioner, traduzido no Brasil.
Perto de uma década depois da publicação de seus escritos, a edição portuguesa Os professores e sua formação, de Antonio Nóvoa, também nos chega trazendo discussões sobre o professor prático reflexivo e, ali, Nóvoa apresenta Schön com deferência, situando-o como “referência obrigatória” na formação dos profissionais; ainda que identificada a importância das discussões de Dewey sobre ação, experiência e reflexão, é em Schön que vê configurado o “profissional reflexivo”.
Na prática reflexiva, os termos colocados por Schön são (1)“conhecer na ação”; (2)“reflexão na ação”; (3)“reflexão sobre a reflexão na ação”. No texto original, os termos são apresentados como knowing in action; reflection in action; reflection on action; reflection on reflection in action. Estes termos seriam as “condições” para uma discussão subsequente e Schön os descreve e explora suas propriedades, na edição brasileira, na Parte II/capítulo 2.
Aqui sintetizamos o que Schön coloca, no original: Knowing’in’action – refer to the sorts of know-how we reveal in our intelligent action? publicly observable, physical performances like riding a bicycle and private operations like instant analysis of a balance sheet In both cases, the knowing is in the action. We reveal it by our spontaneous, skillful execution of the performance; and we are characteristically unable to make it verbally explicit.
Reflection’in’action – the “thinking what they are doing while they are doing it”; “has immediate significance for action. Reflection on action – can be seen as the rungs of a ladder. Climbing up the ladder, one makes what has happened at the rung below into an object of reflection. Reflection on Reflection’in’action – research in practice. There is no room here for the research in practice, or, as I prefer to say, the reflection on reflection?in? action by which practitioners and practice?oriented researchers sometimes make new sense of indeterminate situations and devise new strategies of action.
Schön, ao apresentar os termos, acessa o trabalho de Michael Polanyi, The tacit dimension, que discute as dimensões tácita e explícita no construção do conhecimento. O tácito, muito brevemente, traz as percepções, observações, impressões do sujeito e o explícito como a dimensão onde já há verbalização. No que diz respeito à atividade de projeto, Schön a vê como forma de talento artístico [artistry] e, o espaço do ateliê, o local privilegiado da aprendizagem pelo fazer, onde o desenvolvimento das habilidades práticas carregaria a noção de ruptura com a mera instrução, valorizando a experiência, ou seja, justamente, a ação. A ação reflexiva.
Schön elabora uma Epistemologia da Prática, numa visão ampliada a respeito do “dilema entre rigor e relevância”, do valor assimétrico do conhecimento científico em detrimento das habilidades práticas. No espaço do ateliê, nos projetos, interações com outros estudantes e com o próprio professor se dariam sistematizações de problemas, vários modos de resolução, experimentos com baixo risco; além disso, trabalham a “arte da implementação” e a “arte da improvisação”.
E por que esse talento artístico [artistry] seria bom também para outras formações, além da arquitetura e do design? À flexibilidade e cooperação, já colocadas no início, somam-se o desenvolvimento de competências e habilidades para operar em “zonas indeterminadas da prática”, que referem-se àquilo que escapa aos cânones da racionalidade técnica. As incertezas, singularidades, os valores postos à prova. Conta também o fato do ateliê promover encontros entre estudante-professor, estudante-estudante e grupos maiores.
A vivência de grupos num ambiente de relativa informalidade podendo levar à construção e a explicitar novos pensamentos e ações. Para concluir, ainda que provisoriamente, trazemos uma ideia de Schön sobre o design, que passa ao largo das questões instrumentais e operacionais de nossa área, estando, pelo contrário, muito conectada ao que vem sendo discutido sobre um, talvez, novo papel do design no contemporâneo.
“O processo de design, em sentido mais amplo, envolve complexidade e síntese. Ao contrário dos analistas ou dos críticos, os designers juntam coisas e fazem com que outras venham a existir, lidando, no processo, com muitas variáveis e limites, algumas conhecidas desde o início e outras descobertas durante o processo de projeto. Quase sempre as ações dos designers têm mais consequências do que as pretendidas por eles. […] Eles jogam com variáveis, reconciliam valores conflitantes e manobram em torno de limitações.” (p. 43)
“É IMPOSSÍVEL APRENDER SEM FICAR CONFUSO” D Schön