Rose Mary Lopes
No mundo industrializado e massificado, o desejo de imprimir uma marca pessoal, de expressar a identidade da comunidade, região e cultura brasileira, bem como o desejo de adquirir algo único ligam o artesão ao seu público.
Nosso artesanato é rico, e muitas variações dele são completamente desconhecidas por fatores como distância, dificuldade de divulgar, necessidade de melhoria do padrão de qualidade para atingir mercados mais exigentes, e até mesmo por preconceitos e desvalorização.
Afinal, parece que o que é feito aqui, nem sempre merece atenção, reconhecimento. Olhos postados fora, antenados com objetos de desejo e marcas globais podem não perceber e valorizar coisas que estão mais perto, por “não terem apelo internacional”.
Entretanto, quando visitamos outros países, nos colocamos em outro modo de funcionamento. O mesmo ocorre com os turistas estrangeiros: nesta situação a pessoa se abre para buscar e valorizar o que é único, especial, artesanal: um mimo para si como para pessoas queridas.
Ora, nosso artesanato apresenta progressos visíveis. É um amplo setor com grandes possibilidades de ampliar a inclusão social e melhoria de renda para milhões de brasileiros.
É objeto de preocupação e de um programa específico – Programa de Artesanato Brasileiro (PAB), de 1995. Na época, sob a coordenação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, envolvendo todos os níveis de governo.
Este programa visa estimular, melhorar toda a cadeia do artesanato de modo a impactar na sua valorização e melhoria da posição dos artesãos na comercialização de seus trabalhos.
Este programa lançou em 2012 um completo manual – Base Conceitual do Artesanato Brasileiro – para consolidar o entendimento do setor, diferenciando o artesanato dos trabalhos manuais e de outros tipos de produção.
Ele apresenta todos os tipos de materiais utilizados, os tipos e a classificação do artesanato e as formas de organização dos artesãos.
Aí se informa que o artesanato pode ser tradicional, indígena, de referência cultural, de reciclagem e contemporâneo conceitual. E, fica-se abismado em ver a enormidade de tipos e de materiais.
Avanços como a certificação de origem – indicação geográfica (IG) – são uma forma de garantir o diferencial e valorização maior dos produtos gerados pelos artesãos de determinada localidade ou região.
Este tipo de certificado é concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI. Recentemente o artesanato de capim dourado, do Jalapão, Tocantins, foi o primeiro tipo de artesanato a recebê-lo, o que é atestado por um selo.
Com isto, os objetos criados pela Associação dos Artesãos em Capim Dourado – bijuterias, bolsas, vasos, porta joias etc. – agregam valor, e certamente o preço e a renda auferida sobem.
Cerâmicas marajoaras e tapajônicas tem melhorado o design. O artesanato indígena, sobretudo da região norte do país – cestarias, flechas, arte plumária, redes de diversas fibras etc. – costumam encantar turistas.
Biojoias são objetos artesanais criados a partir de sementes da Amazônia, muito bonitos e que permitem a sustentabilidade dos artesãos locais e de sua região. Pequenos quiosques em aeroportos com produtos da região costumam vender as biojoias.
Em regiões urbanas há iniciativas interessantes como a cooperativa de artesãs da comunidade da Rocinha que abriu a própria loja – Coopa Roca. Há empreendimentos dedicados ao trabalho de inclusão por meio do artesanato como é o caso da Gatos de Rua em Recife.
Quando se visita uma boa loja dedicada ao nosso artesanato, percebe-se que há empreendedores muito sensíveis e que garimpam o que há de melhor no país – peças decorativas, lúdicas, educacionais, religiosas, utilitárias etc.
Há que ter conhecimento, amor ao belo e nosso. Mercado existe, dentro e fora do país!