Democracia no Egito

Por Armando Tadeu, Professor do Intergraus Vestibulares

Indo direto ao assunto, afirmo que o Egito não tem mesmo intimidade com a democracia. Depois de três décadas de ditadura de Hosni Mubarak, seria bom demais ver um governo democrático instalado sem questionamentos. Após a tempestade a bonança, após a ditadura, a democracia. Claro que não é bem assim. Os diferentes grupos entre religiosos, laicos e militares, que estavam calados pela ditadura, agora querem ser a bola da vez e a democracia não é democrática com todos, mas com a maioria.

Hoje o Egito vive um período difícil de acomodação de interesses o que vem gerando conflitos entre militares e civis, laicos e religiosos, muçulmanos e cristãos. A eleição para o Parlamento e a eleição presidencial, dentro dos moldes democráticos, deram vitória aos candidatos da Irmandade Muçulmana. Mohamed Mursi, o presidente eleito por essa entidade, no entanto, não teve habilidade política para atender aos interesses dos diferentes grupos que se apresentaram pós ditadura.

Aliás, quem teria essa habilidade? Depois de trinta anos dentro de um ambiente de governo autoritário, qual cidadão egípcio com idade media de quarenta anos ou mesmo com sessenta teria intimidade com a democracia? Penso que qualquer representante, de qualquer um desses grupos ou subgrupos citados acima que tivesse assumido o governo no Egito não teria habilidade para articular e acomodar satisfatoriamente as aspirações e as esperanças de toda a sociedade.

Me desculpe pela comparação, mas após quinze anos de governo Vargas no Brasil (1030/1945), dos diferentes grupos, – entre civis e militares – que se organizaram em torno de partidos políticos em 1945, progressistas e conservadores disputaram o poder  em meio a tentativas de golpes, que acabou consolidado em 1964 pelos militares, justificado pelo “fantasma” do comunismo.

A Síria hoje também deseja derrubar seu indesejado ditador. No entanto, esse intento é comandado por mais de um grupo de oposição. Portanto, após a desejada queda de Bachar Al Assad esses grupos, possivelmente, entraram em conflito entre si pelo controle do governo.

Parece-me que a tempestade egípcia está longe da acalmar e viverem a bonança. Se adequar a um governo democrático tem suas dificuldades. Acabar com a ditadura, nem sempre significa eliminar os ditadores. Remover os escombros do antigo regime as vezes é demorado e penoso, quando não é sangrento.

A recente matança promovida pelos militares contra os partidários da Mursi e da Irmandade Muçulmana é um péssimo sinal para quem deseja, pelo menos em tese, sepultar o autoritarismo.

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