Da série: Princípios da Criação

27 – Enquanto isso, no Brasil…

Heraldo Bighetti Gonçalves

Por aqui, a publicidade também começou com o surgimento do jornal. Porém, com uma grande defasagem em relação ao que aconteceu nos EUA e no resto do mundo.

Graças à Inglaterra e a Napoleão Bonaparte, o Brasil ganhou seu primeiro jornal. A Inglaterra facilitou a saída da Corte Portuguesa inteira para, digamos, uma mudança estratégica da sede de governo, antes que Napoleão chegasse com suas tropas.

Junto com a Corte, chegaram também todos os instituições de governo. A Imprensa Régia estava entre essas novidades vindas d’além-mar e implantada por Dom João VI. Estamos em 10 de setembro de 1808 e o Brasil, finalmente, tem um jornal impresso em solo brasileiro. E pensar que lá nos EUA esse número estava por volta de uma centena ou mais.

Já nos primeiros números da Gazeta do Rio de Janeiro – esse era o nome do jornal – encontramos vários anúncios de pessoas vendendo casas, paramentos para rezar missa e, infelizmente, escravos. Foram necessários mais três anos para surgir outro jornal: Idade d’Ouro do Brasil, na Bahia. Daí em diante, a cada ano surgiam novos jornais, num total de mais de cinquenta só no período colonial.

Até 1889, eram mais de 400 jornais no Brasil, concentrados principalmente no Rio de Janeiro. Foi só no século XX que os jornais brasileiros passaram de uma aventura quase artesanal para se transformarem em empresas.

Infelizmente, a Revolução Industrial demorou para chegar. E quando o fez, veio por meio das empresas lá de fora. Parece que esse negócio de imitar a Corte, continuou após a independência e mesmo depois da proclamação da república. Não era de bom tom ganhar dinheiro, muito menos uma pessoa de posses e com títulos de nobreza ser vista trabalhando para ter lucros. Que o diga o Barão de Mauá, talvez um dos únicos que tentou, mas não conseguiu colocar nosso país no compasso mundial dos negócios.

Se parece que nosso texto se desviou, engano seu. Para que a indústria da propaganda surja, não esqueça, é necessário que existam algumas condições primordiais. Ou seja, pessoas querendo comprar e tendo dinheiro para isso; empresas que fabriquem o que essas pessoas querem comprar; meios de comunicação que mostrem a existência dos produtos para as pessoas que querem consumir. Falando a verdade, não estávamos sequer perto de pensar em uma sociedade de consumo.

O século XIX vira século XX e o ambiente de negócios começa a ficar favorável para o surgimento de uma agência de propaganda. Os produtos comercializados aqui eram de origem europeia em sua maioria, mas já com um grande número de pequenos comerciantes brasileiros.

Os principais anunciantes da época – assim como aconteceu nos EUA –  eram: produtos farmacêuticos, fumo, bebidas e tecidos. Eram anunciantes como Bromil, Vinho Baruel, Antarctica, Lugolina etc. Por outro lado, os meios de comunicação atingiam uma massa crítica suficiente com um bom número de jornais e, é claro, de revistas que também iam crescendo em número e em qualidade gráfica.

No Brasil não foi diferente com o perfil dos primeiros criadores. Os redatores eram jornalistas, escritores e poetas. Entre eles destacam-se Olavo Bilac, Monteiro Lobato Orígenes Lessa, que faziam um trabalho extra em textos publicitários. O objetivo era e continua sendo o mais mundano possível: vender um produto. Nota-se inclusive nessa época o estilo pesado, cheio de rimas e extremamente adjetivado. Estilo que formou a maioria dos clichês do que seria um anúncio, ou como diziam na época, um “reclame”. Até hoje encontramos pessoas fazendo “reclames” por aí.

Então, em 1914, na cidade de São Paulo surge a primeira agência brasileira: A Eclética.

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