Por Armando Tadeu, Professor do Intergraus Vestibulares
Hoje vivemos um tempo em que somos filmados ao andar pela rua, ao trafegar por rodovias, ao entrar em um banco, estabelecimentos comerciais, aeroportos, ou em transporte coletivos como ônibus, metrô e trens. Câmeras leem chapas de veículos denunciando possíveis irregularidades. Por outro lado, milhões de pessoas, pelo mundo, se expõem nas redes sociais voluntariamente abrindo mão de parte de sua privacidade, mostrando sua fisionomia, ideias, desejos, conquistas.
Será que as denuncias de Eduard Snowden, ex-técnico de computadores que prestava serviço para a CIA, são tão surpreendentes assim? Achar que os EUA, que atualmente se borram de medo do terrorismo não tá bisbilhotando a vida alheia mundo a fora, é ser inocente demais. O que me chama a atenção é a estrutura montada para esse fim, interceptar e-mails, ligações telefônicas, mensagens de celulares e outras ferramentas de comunicação digital. E pode ter certeza que outros países como Inglaterra, Rússia e China fazem a mesma coisa.
Hoje é humanamente impossível bisbilhotar o volume de dados produzidos pela humanidade no mundo num período de 24 horas. O volume de dados produzidos no século XIX, ambiente da revolução industrial, do capitalismo financeiro, do colonialismo afro-asiático, deve ter sido produzido enquanto eu escrevia este texto. Como controlar tudo isso?
Se o objetivo norte-americano é caçar terrorista, o método não está sendo tão eficiente. Se bem me lembro, a chegada da maratona de Boston no último mês de abril foi um estouro, aliás, dois estouros, deixando três mortos e dezenas de feridos. Depois das denuncias de Snowden é claro que não vai ter terrorista combinando atentado por e-mail, telefone ou SMS. A atitude do ex-técnico da CIA trouxe trabalho tanto para grupos terroristas que vão ter que criar meios seguros para o trânsito de suas informações como para a inteligência norte-americana que vai ter que descobrir quais são estes meios.
Hoje um hacker sem nenhum juízo pode promover uma guerra cibernética, ou digital, ou virtual – como queiram – paralisando o fornecimento de energia, causando acidentes aéreos confundindo controladores de voo, danificando sistemas bancários e de transportes, tendo como armas apenas uma tela e um teclado – e apertando o F…. Invadir os EUA militarmente por mar, terra e ar pode ser impossível, mas será que virtualmente eles estão totalmente blindados?
Uma nação protestante (cristã) como a do Tio Sam deveria ser mais praticante do versículo primeiro do Salmo 127 que diz: “se Deus não guardar a cidade, em vão vigia o sentinela”. Deveria também confiar menos no homem como propõe outro versículo: “Maldito o homem que confia no homem’. Se assim fosse, talvez hoje não estariam tão decepcionados com Eduard Snowden nem com Julian Assange, do site Wikileaks, e o terrorismo talvez não fosse esse “bicho papão” terrível.