Com mais capacitação empreendedora nossos artesãos podem exportar biojoias

Rose Mary Lopes

Que as mulheres gostam de se enfeitar, todos já sabem. E que os homens apreciam vê-las adornadas, também. Para isto, a humanidade lançou mão de muitos materiais: uns mais pobres, outros semipreciosos ou preciosos.

A depender do tipo de matérias-primas utilizadas, o adereço pode ser classificado como bijuteria, joia ou biojoia. Qual a diferença entre elas? Se recorrerem ao material do Sebrae – Como montar uma produtora de biojoias – logo no início são abordadas estas classificações.

As biojoias se caracterizam por utilizar matérias primas naturais, sendo que o recolhimento e extração destes materiais devem considerar a sustentabilidade. A estes materiais podem ser adicionados outros, até os mais nobres como metais, pedras semi e/ou preciosas. O design da peça é que definirá a combinação e proporção destes elementos, de modo a apresentar uma solução estética interessante.

Como as bijuterias tendem a não utilizar materiais nobres, a não ser a prata, ou ligas como alpaca, e a não ter as pedras cravadas, e sim, coladas, percebe-se que muitos dos adornos vendidos como biojoias seriam, de fato, bijuterias.

Se o leitor rastrear na internet vai localizar vários sites que comercializam estas biojoias. Alguns muito elaborados, mostrando realmente a potencialidade de arte e design nos acessórios/ bijuterias finas: brincos, colares, pulseiras, anéis etc. Outros muito mais simples. Como o de cooperativas de mulheres indígenas que tentam, assim, obter uma janela para o mundo, mostrando as peças que criam.

Com sementes de diversas colorações e origens como as do açaí, angelim, jatobá, murumuru, jarina (conhecida como marfim vegetal), olho de cabra, paixubão, sibipiruna otento, tucumã, patuá, jatobá e jupati. Ou com ossos, chifre, conchas, madrepérolas, casca de côco, palhas como a do buriti, madeiras, capim dourado (considerado o ouro do Jalapão), couros ou peles como as de tilápia etc.

Sobretudo as sementes, por serem materiais orgânicos, precisam ser tratados para impedir germinação e deterioração. E, para impedir o crescimento de fungos e de bactérias. Os tratamentos tradicioais são a secagem (em estufas) e banhos em óleos vegetais, parecem não dar garantias totais da eliminação dos patógenos. Há recursos mais modernos como radiação gama que esteriliza completamente o material.

Para exportação, este cuidado é importante, pois há regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – a este respeito. E, de qualquer modo, as inspeções e barreiras sanitárias de diferentes países exigiriam que as biojoias, ou bijuterias feitas com estes materiais orgânicos, demonstrem que não disseminariam fungos, bactérias e parasitas em seu ecossistema.

O interessante das biojoias, ou das bijuterias que agregam estes elementos naturais, é que elas também incorporam elementos da cultura regional ou brasileira. Tradições indígenas ou de grupos locais, incorporação de elementos estéticos regionais, ou de elementos históricos, se bem trabalhados por design, criam peças com bastante valor.

Através deste artesanato gera-se renda e inclusão para grupos desfavorecidos como o das mulheres indígenas. Recentemente conheci peças feitas por mulheres da União das Mulheres Artesãs Indígenas do Médio Rio Negro – UMAI. Mas, da UMAI puranga. Puranga do tupi significa bonito e formoso. Pois é, os trabalhos realizados por elas são de fato muito bonitos.

Mencionaram que foram auxiliadas por uma designer que lhes ajudou a criar peças em que incrustam madeira nas sementes, num lindo trabalho de marchetaria. Se quiserem ver as peças, consultem em http://umaiartesanatos.com.br/index.htm. É um site ainda simples, mas já revela a beleza das peças criadas. Certamente que, se tivessem mais apoio de técnicas de marketing, poderiam valorizar ainda mais o artesanato que expõem.

Pois, ainda não fazem o storytelling delas próprias ou de suas peças. Assim, o visitante do site, desinformado, não vai saber que os colares e anéis usam a técnica de marchetaria. E não saberá quais as sementes que usam, como a jarina. E, não será capaz de perceber o valor do que vê. Ou seja, com mais instrumentalização, a possibilidade de geração de renda delas pode ser ampliada.

E, este, certamente é apenas um exemplo dos grupos de artesãos e artesãs que podem aproveitar melhor o mercado crescente para as biojoias. E, o potencial de exportação: com mais design, originalidade, indicação de origem, da esterilidade do material orgânico, storytelling e marketing.

E, se as faculdades e universidades estimularem o trabalho de consultoria de alunos, apoiado por professores, estas pessoas poderão criar, organizar, produzir, gerenciar e vender melhor. Com mais geração de renda e inclusão, ou seja, com sustentabilidade. Ressaltando brasilidade, que seria levada para além de nossas fronteiras.

Fica aqui o desafio para que estas instituições, através de suas empresas juniores ajudem na capacitação empreendedora destes brasileiros!

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