Chile: Nem tão bem assim

Por Veronica Goyzueta

Costumamos ler na imprensa boas notícias sobre o modelo econômico do Chile, frequentemente citado como o que mais tem dado certo entre os países emergentes. As medidas adotadas a partir dos anos 80, entre elas as privatizações e a abertura comercial, trouxeram bons dados macroeconômicos, como o aumento da renda per capita, a redução da pobreza e índices anuais de crescimento, beirando o 6% no último ano, aliás, nos últimos três anos.

Mas os movimentos estudantis que começaram a sacudir o país em 2011, foram o primeiro indício de que as coisas não vão tão bem assim. A privatização ao extremo, de tudo o que era público, deixou a população sem a opção de educação e saúde gratuitas.

No Chile, o país com as universidades mais caras do mundo, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), jovens sem condições de pagar os estudos, assumem longas dívidas de financiamento estudantil, nas que ainda correm juros.

Há ainda a previdência privada, as AFPs (administradoras de fundos de pensão), que cobrem menos de 50% dos trabalhadores chilenos e têm altos custos de administração.

Em duas visitas recentes ao país nos últimos dois anos, para participar de encontros da União Sul-americana de Correspondentes (UNAC), tive a oportunidade de ouvir depoimentos de líderes do movimento estudantil, como Camila Vallejo, e de Javiera Parada, de um grupo pela Assembleia Constituinte no Chile, entre outros representantes da sociedade civil.

Vi também discussões sobre o assunto nas prateleiras das livrarias, como “El País que Soñamos”, (Editora Debate. Santiago de Chile, 2013), do ex líder estudantil e agora candidato a deputado, Giorgio Jackson.

O livro “El Otro Modelo. Del orden neoliberal al régimen de lo público” (Editora Debate. Santiago de Chile, 2013), reúne cinco intelectuais chilenos (Fernando Atria, Guillermo Larraín, José Miguel Benavente , Javier Couso e Alfredo Joignant) para discutir um novo ordenamento, com profundas reformas políticas sociais e econômicas, como uma nova Constituição, que atenda direitos sociais e traga uma melhor representatividade política.

A proposta deste livro, segundo os autores, é transitar a partir da ordem neoliberal, em que as instituições minimizam a figura do cidadão, para um regime em que o público volte a fazer parte da democracia.

Às portas de uma nova eleição, em que Michele Bachelet é favorita, são poucos os representantes de movimentos sociais que acreditam que pode haver mudanças e que o país está no caminho de oferecer à sociedade alternativas públicas de qualidade. O debate está vivo.

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