Rose Mary Lopes
A humanidade sempre encontrou formas de expressar e marcar épocas do ano, datas especiais relacionadas com o passar das estações, das colheitas e com o calendário religioso. Celebrações e festividades envolvendo música, dança, comida e bebida.
Estas são marcadas por uma preparação do ambiente ou mesmo das pessoas. Deste modo tem-se desde os objetos de decoração, infraestrutura necessária, vestimenta, ornamentos e maquiagem dos participantes.
Focando-se o Carnaval. Há diversas origens: na antiguidade – Babilônia e Mesopotâmia – envolvendo rituais de subversão de papéis de prisioneiros e de reis; e nas festas greco-romanas que envolviam bacanais e orgias, envolvendo Baco (deus do vinho), épocas do ano (início e final do inverno).
A Igreja Católica não via com bons olhos a reversão de papéis, pois no limite se estariam invertendo as relações entre Deus e o demônio. Assim, definiu a época de excessos para antes do período de quaresma, que envolvia a abstinência de carne (carnis levale = tirar a carne) e controle sobre os prazeres mundanos.
Durante a Renascença, na Itália assumem-se personagens das comédias de arte, com uso de máscaras e de fantasias. No Brasil colonial, surge o Entrudo de origem portuguesa que era marcado por brincadeiras diversas, com bonecões – denominados como “entrudos”.
Envolvia uma manifestação grosseira e violenta envolvendo escravos e a população de rua, e também o entrudo mais ameno nas casas dos senhores. Ambas manifestações tinham componentes de jogar coisas uns nos outros, com dejetos sendo usados na sua forma mais violenta.
Daí que houve muitas tentativas de proibi-lo, mas a manifestação resistiu e adquiriu ao longo do tempo, diversas formas. Assim, há manifestações que ainda se aproximam do entrudo original – como na cidade de Arraias no Tocantins, envolvendo a população local – e outras que se mesclaram com componentes folclóricos locais.
Temos então elementos do bumba-meu-boi no Maranhão, Pará e Manaus; maracatu, o frevo e os bonecões em Pernambuco e Olinda; o samba e suas escolas no Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus e outros lugares que seguem este padrão; e o carnaval de rua com os trios elétricos principalmente em Salvador na Bahia.
Mas, o que mais tem marcado o Carnaval no Brasil é a presença de brincadeiras de rua, a partir de manifestações da própria sociedade civil que organiza blocos e bandas e permite a inclusão de todos que queiram se divertir de modo alegre e espontâneo.
Como festa popular envolvem negócios nos seus preparativos, durante ou mesmo pouco depois de acontecer. Afinal por mais simples que seja demandará roupas, adereços, carros alegóricos e de som, bonecos, instrumentos musicais, equipamentos de som e de luz, infraestrutura (delimitação do local, arquibancadas, banheiros), marketing e mídia.
Diversos interesses se mesclam no Carnaval. Há cidades que se posicionaram, graças a seus políticos e à sociedade civil, oferecendo carnavais mais tradicionais – baseado em marchinhas como o de São Luiz de Paraitinga (SP) – ou os grandes espetáculos, desfiles de escolas de samba – no Rio de Janeiro e São Paulo. São atrativos para turistas brasileiros e estrangeiros que movimentam a economia local.
Estes demandam hospedagem (acampamento, aluguel de residências, pousadas e hotéis), estacionamentos, alimentação e bebida, fantasias, abadás, máscaras, além de confetes, serpentinas, apitos, etc.: esperam-se até 150 mil pessoas em São Luiz de Paraitinga, ou milhões – mais de 1,3 milhão no Carnaval pernambucano de 2014.
Há desdobramentos do Carnaval que também movimentam a economia local. São as festas pré-carnaval ou os carnavais fora de época – o bloco da Preta no Rio movimentou cerca de 350 mil pessoas, e 320 mil foliões se divertiram em São Paulo, nas regiões da R. Augusta, Vila Madalena e Pinheiros.
São Luiz de Paraitinga organizou o 30º. Concurso de Marchinhas, uma forma de movimentar a cidade e de alimentar o próprio Carnaval com marchinhas novas que se incorporam às antigas.
Há muitos negócios envolvidos no Carnaval e nas festas populares. Estas se bem trabalhadas podem ser tornar atrações trazendo pessoas de fora da cidade, demandando infraestrutura, transporte, segurança, turismo receptivo, hospedagem, alimentação, souvenirs, outros entretenimentos, além de construir a identidade e a marca da cidade.