As retóricas russa e americana

Por Cesar Veronese, Professor do CPV Vestibulares

Os acontecimentos nos últimos dias na Síria e no Egito afastam a possibilidade de qualquer solução para as já complexas realidades políticas dos dois países.

No Egito, o massacre dos seguidores da Irmandade Muçulmana pode, no limite, desencadear uma guerra civil. A Irmandade desempenhou um papel importante após a derrubada de Mubarak. Mas a cartilha radical apoiada na sharia limita suas ações frente aos problemas que desafiam o país, como o desemprego e a inflação. Por outro lado, a ausência de um partido político mais organizado capaz de estabelecer um governo deixa os egípcios sem alternativas políticas concretas. Nessa brecha, o caminho para uma guerra civil não é muito longo.

Igualmente distante parece ser a paz para a Síria. Os rebeldes sunitas associados à Al-Qaeda contam com o apoio dos Estados Unidos. E a ditadura de Assad é chancelada por Moscou. Os ataques à população civil com armas químicas na semana passada tornaram delicadíssima a situação do governo. De acordo com os relatos de muitos analistas internacionais, o responsável pelo arsenal de armas químicas é o ex-assessor de Putin e dissidente russo Anatoli V. Kuntsevich.

Diante desses acontecimentos, especialmente da Síria, a ONU é uma das poucas instituições com poder para intervir nesses campos minados. Mas aí vem sempre o famigerado poder de veto dos Estados Unidos e da Rússia. Enquanto isso, civis inocentes são pisoteados, assassinatos e asfixiados com gases. Há, é claro, a indignação da comunidade internacional e, como sempre, da velha Europa. Mas ao mesmo tempo em que a Europa se manifesta escandalizada, muitos dos seus países, sobretudo aqueles ditos neutros, como a Áustria e a Suíça, continuam a produzir tecnologia de ponta para ser empregada na produção de armamentos de todo tipo.

A verdade é que as potências como Estados Unidos, Rússia e, mais recentemente, a China, pintam e bordam. Quando os conflitos envolvem diretamente seus interesses econômicos, elas intervêm e fazem o que querem, fechando os olhos e os ouvidos para a ONU, a opinião pública e a comunidade internacional. E quando há conflitos ou ações governamentais que envolvem o desrespeito aos direitos humanos mais elementares, como no caso da Coreia do Norte, as potências permanecem igualmente mudas e de olhos fechados.

Sobre a política externa americana, há um livro extraordinário que analisa em minúcias essa questão. Trata-se de GENOCÍCIO: A RETÓRICA AMERICANA EM QUESTÃO, de Samantha Power, editado no Brasil pela Cia. das Letras.
E sobre os acontecimentos políticos recentes no Egito, será exibido um ótimo filme, DEPOIS DA BATALHA, de Baad el Mawkeaa, na sessão de encerramento da 8ª.Mostra Mundo Árabe de Cinema que está acontecendo em São Paulo. O filme será exibido domingo (01.09), às 19h00, no Centro Cultural Banco do Brasil.

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