Ricardo Cruz
Diante de um cenário econômico de grande incerteza, assolado pela pandemia provocada pela COVID 19 a construção de um canal escalável para a chamada internet das coisas e das Fintechs os desafios que se apresentam são muitos para dar continuidade ao crescimento do ambiente dos serviços digitais.
Os serviços digitais financeiros apresentaram um forte crescimento nos últimos 5 anos impulsionados principalmente pelo baixo acesso aos produtos que facilitam o pagamento na sua forma digital, e o crédito oferecido pelas startups de finanças em geral.
Até 2019 o uso dos serviços digitais das fintechs chegou 64% da população digital no Brasil e na América Latina países como a Colômbia (76%) e Argentina (67%) superaram o percentual de 64% de média observado mundialmente segundo estudos do Departamento Econômico do BIS – Bank for Internacional Settlements, BP 112. Ainda segundo o BIS em 2019 foram processados cerca de 400 milhões de transações digitais só na Argentina, no Brasil o destaque fica por conta do Nubank que atingiu 10 bilhões a valor de mercado.
Tal aumento na conectividade e oferta dos serviços digitais tem seu desenvolvimento nos processos contínuos de aprimoramento no uso de inteligência artificial, big data, da velocidade de processamento e do open banking. A facilidade de acesso aos serviços financeiros traz a reboque alguns desafios pois estamos diante de uma dinâmica que pode integrar o país e levar tais serviços a regiões antes sem atendimentos, chegando a uma integração da região latino-americana com o mundo nunca imaginada.
Esse contínuo desenvolvimento traz consigo a necessidade de marco regulatório com forte capacidade institucional de controle e de proteção aos dados bem como a defesa contra os ataques cibernéticos em geral. O Brasil avançou significativamente neste aspecto com a Lei da internet das coisas (fruto do PL 6.549/2019) e com a Lei no. 13.709/2018 – LGPD que em 2021 já entra em fase de aplicação integral.
O mercado para o Brasil não desacelerou nos investimentos em relação as fintechs e estudos mostraram que em 2020 houve uma movimentação de 1,9 bilhões de dólares para as startups financeiras (Inside Fintech Report) concentrando 580 milhões de dólares só no último mês de 2020.
Destaques para as captações da Creditas (255 milhões de dólares); C6 Bank com 241 milhões de dólares, Nubank e |Neon com aproximadamente 300 milhões de dólares sem considerar as fusões e aquisições que ocorreram como a compra da Antecipa e da Fliper pela XP, entre outras operações. O Nubank adquiriu a Easynvest ampliando ainda mais sua oferta de produtos, o Bradesco via Bitz, o Banco Original com a PicPay, o BTG mirando as pessoas físicas e as pequenas e médias empresas com o BTG Business e outros players indicam que o ecossistema financeiro das fintechs podem continuar a ampliar a pluralidade de oferta no mercado.
É fato que vivemos um momento de crise aguda com a pandemia no país, mas o que estamos observando é que as soluções financeiras isoladamente ou em formas de “combo” poderão surgir como novas alternativas de atendimento indo além das fintechs e dos bancos digitais com a entrada de players que objetivem trazer pacotes diferenciados como provedores financeiros.
Ainda há no Brasil um espaço grande à inclusão financeira (46 milhões de brasileiros – Instituto Locomotiva) e a experiência com o chamado “corona voucher” despertou interesse de muitos players nas fintechs, a Caixa Econômica Federal pretende fazer IPO no exterior e já trabalha com a listagem na B3, utilizando do canal digital “Caixa Tem” que atingiu cerca de 107 milhões de usuários na pandemia.
Para o ecossistema das fintechs, mesmo com o viés de alta em que entramos no ano de 2021 e a indicação de aumento da competitividade pelas inúmeras aquisições, fusões, possível entrada de players internacionais devido ao mercado ainda a ser absorvido, as incertezas são muitas, e possivelmente teremos um período de ajuste no mercado.
A liquidez será um fator crucial para as fintechs que devem continuar a receber aportes para o segmento, muitas empresas preservarão sua capitalização, outras poderão ser absorvidas pela própria necessidade de sobrevivência devido a falta de capitalização, a própria modernização do setor financeiro em direção ao desenvolvimento digital contribuirá para o crescimento e o amadurecimento do segmento.Ricardo Cruz é professor da ESPM; supervisor de finanças do Curso de ADM