A vida e suas opções

Edmir Kuazaqui

Uma das coisas mais importantes do ser humano é o livre arbítrio, que possibilita a livre escolha e decisão sobre seus atos. Essa livre decisão pode redundar em consequências e impactos para o individuo, grupos a que participa e a sociedade em geral. Exemplificando, quando alguém decidiu em capturar e sacrificar os animais de rua, possivelmente efetuou uma avaliação econômica de curto prazo, cartesiana e reducionista, pensando nos custos de manter os animais desabrigados em detrimento ás outras alternativas, como uma campanha de conscientização para a população, com conteúdos relativos à castração bem como a solidariedade com os animais desabrigados.

Animais em geral consomem diferentes produtos como ração, remédios e até roupas; então, ao invés de eliminar uma vida, mantendo-a estamos aumentando a cadeira produtiva e impostos se a abrigarmos, trazendo benefícios a todos (e especialmente ao animal). Outro exemplo mais atual é o caso da polêmica causada pelos milhares de jegues e jumentos existentes no país e em especial no Nordeste, onde boa parte esta abandonada e solta nas estradas causando acidentes de trânsito.

Desculpas à parte, quem provoca os acidentes não são os animais, mas por vezes motoristas incautos que dirigem e falam ao mesmo tempo no celular; essa situação levou a um advogado (e me perdoem, sem nenhum senso que uma pessoa deveria ter) em equivocado projeto de lei para abate e comercialização deste animal que é símbolo cultural da região. Equivocado por ser um símbolo cultural e o abandono é a principal razão de ter animais em grande quantidade soltos na natureza. Depois, este animal pode ser aproveitado em atividades econômicas como o transporte de carga, uma vez que este é robusto e consegue carregar um peso igual à de seu próprio corpo.

Outro bom exemplo é o caso de que animais vivos serviam como cobaias para o complemento técnico de estudantes de medicina, onde podiam operar várias vezes o mesmo animal (e em alguns casos sem anestesia). A justificativa da vivissecção envolvia o aprendizado e a possível melhora dos médicos aplicada a seus pacientes. Ora, as guerras também geraram algumas inovações e descobertas médicas, mas não podemos associar os prejuízos sociais em detrimento aos ganhos de conhecimento.

Pensando de forma mais ampla, próteses podem substituir animais vivos em operações e necessitam de um nicho de mercado formado por empresas e profissionais que visem atender a essa demanda. Finalmente, quando alguém dirige conversando ao celular ou mesmo embriagado, tomou uma decisão que pode afetar a sua vida como a de outros.

O grande problema é que boa parte das pessoas não sabe utilizar o dom do livre arbítrio. Perguntados as razões que levaram as decisões e impactos, pode se escutar frequentemente “eu não sabia”, “a culpa não é minha”, “o outro também fez”, como motivos por ter decidido beber e dirigir, dirigir e falar ao celular, colar numa prova, fazer plágio, entre outros exemplos. A culpa nunca é do individuo e poucos ainda possuem a paciência e o bom senso em querer fazer algo dentro de uma lógica que traga algo positivo a todos (e não somente a si próprio) no curto, médio e principalmente no longo prazo. Fato este comprovado na última eleição municipal, onde votou-se em determinado candidato com promessas que, segundo o mesmo, não serão cumpridas por falta de orçamento. Decidiu-se politicamente em não aumentar as tarifas de ônibus mas preferiu aumentar a alíquota do IPTU. Ainda bem que não conseguiu.

Longe de pensar de forma política, ambiental ecológica ou mesmo de um debate moral ou ético, é preferível a discussão sob o ponto de vista comportamental. Comportamentos geralmente não nascem da noite para o dia: muito pelo contrário, fazem parte de uma rotina de grupos e que geralmente sofrem influências externas, mas que são inputs ao individuo e onde cada um processa de forma diferente e age conforme seu senso de valores. Portanto, deve-se entender que as decisões de indivíduos refletem o seu intimo, mesmo que em algumas vezes haja o desconhecimento do fato e da situação. E que embora o arbítrio seja livre para cada indivíduo, este pode trazer as consequências e impactos em boa parte da sociedade.

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