A mobilidade depende muito dos empreendedores de transportes terrestres!

Rose Mary Lopes

Época de férias representa uma enorme concentração de viagens domésticas. Decerto que muitos viajantes se movimentam em seus próprios veículos, outros por avião. Neste último caso, para suas movimentações terrestres, interurbanas ou interestaduais, podem recorrer às empresas de transporte terrestre de passageiros (mais de 2000!) e que ainda ganham longe, pois maior número de viagens é feito por elas.

Quem passa pelos maiores terminais rodoviários do país, como os de São Paulo e Rio de Janeiro, é testemunha do êxodo e se admira ante o verdadeiro formigueiro humano que necessita dos serviços destas empresas, dos empreendedores ou dos times de gestão formados por eles.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informa que, em 2008, foram 140 milhões de usuários ano, ao que parece só em viagens interestaduais. Pois, a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (ABRATI) informa serem mais de um bilhão de passageiros entre os municípios do Brasil em 2004!

Certamente que este número só cresceu. Afinal, a movimentação por ônibus ainda representava, em 2004, 71% das viagens interestaduais e internacionais. No total, a ANTT contabiliza 16640 ônibus para a prestação de serviços regulares e mais 22 870 para fretamentos, no âmbito interestadual e internacional. A ABRATI informa serem 57 mil no transporte municipal.

Isto representa muitos bilhões de faturamento anual, gerando 300 mil empregos diretos, afora os indiretos, e arrecadando 4 bilhões de Reais em impostos.

Estas empresas ligam as pessoas no Brasil todo, enfrentando as nossas rodovias – 1,7 milhões de km, sendo 186 mil asfaltadas – que, por vezes, estão em situação calamitosa.

Eu mesma, no passado, cheguei a fazer um trecho por estrada pretensamente asfaltada, entre Parnaíba (PI) e São Luís (MA), numa viagem aventurosa que demorou o dobro de horas. E dois bravos motoristas se revezaram para driblar os buracos e valas, e inúmeras vezes saiam para as laterais (sem acostamento) que se mostravam menos ruins do que o leito da estrada. Imagine o que isto significa em termos de desgaste do veículo, horas a mais de funcionários, afora o risco para todos e o desgaste dos passageiros!

Mas, os empreendedores deste setor já lutam com as condições adversas há um século (ABRATI). Pequenos empreendedores iniciaram os serviços de transporte de passageiros, sobretudo entre cidades que não eram ligadas pelas ferrovias, assumindo tanto a condução do veículo, as vendas de passagens e a manutenção. Comumente envolviam membros da família para ajudá-los, num modelo familiar de empreendimento.

Quem quiser conhecer mais histórias sobre estes empreendedores pioneiros pode consultar o livro Sonho sobre Rodas, (ABRATI, 2012). Os autores são o pesquisador advogado Antônio Rúbio de Barros Gômara e o jornalista Nélio Lima. Trata-se da segunda obra sobre o setor: em 1999, o próprio Rúbio já iniciara a narração destas histórias.

Muitas destes pequenos empreendimentos cresceram, até por aquisição de outras empresas. Constituíram, por vezes, grandes grupos, tendo que se modernizar ao longo de suas trajetórias. E ajudaram a encurtar as distâncias, graças a muito esforço, persistência e inovações.

Basta lembrar Tito Mascioli que, para alavancar as vendas do loteamento de seu cunhado, em São Paulo, no bairro do Jabaquara, muito distante na época, resolve implantar, em 1937, uma linha de transporte entre esta região e a Praça da Sé. Comprou licenças e fundou a Auto Viação Jabaquara S.A.

Percebeu mais oportunidades na mobilidade dos passageiros e cresceu a ponto de se tornar a maior empresa de transporte urbano da cidade de São Paulo.

E, mesmo ante o revés da encampação de sua empresa pela recém-criada Companhia de Transportes Coletivos – C.M.T.C. – pelo governo, e sem receber a indenização, parte para adquirir outra empresa. Esta, no ano seguinte – 1948, é denominada de Viação Cometa S.A. Expande para outras cidades, e aproveita a criação da Via Dutra iniciando a ligação por ônibus entre São Paulo e Rio em 1951!

À Cometa se podem creditar várias inovações, como os modernos ônibus da GM adquiridos em 1953, com motores Detroit Diesel 6-71de 211 cavalos de dois tempos, suspensão a ar, carroceria de alumínio e ar condicionado. Em 1968 testa chassis com motor traseiro, da Scania, com motor traseiro, inaugurando uma parceria que durou quase meio século.

Os ônibus eram mais caros, porém mais fáceis na manutenção e economizavam combustível e pneus, pois eram mais leves. Assim, nos anos 70, a maior parte da frota era de carrocerias em alumínio.

Em 2002 a Cometa foi comprada por empresa do grupo JCA.

Ao se pesquisar sobre o setor, muitas notícias nos dão conta de que, infelizmente, nem tudo corre de forma honesta e ética. Dados os grandes interesses envolvidos, e uma vez que o setor é regulado pelo governo que abre licitações para os serviços, nem sempre o que acontece se pauta pela lisura esperada pelo público.

E, que também há empreendedores que não cumprem com as suas obrigações trabalhistas. Há exemplos que denigrem os outros que trabalham para de fato contribuir para o atendimento das necessidades da população.

Parece que os maus exemplos não acontecem somente entre empreendedores. Mas, cumpre-nos valorizar os que, no passado ou no presente, fazem de tudo para que possamos viajar para onde quisermos ou precisarmos, com segurança e conforto.

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