Marcos Maurício Alves da Silva
E no princípio era o verbo… e ainda hoje o é.
Numa época de vermelhos contra azuis, do meu contra o seu (quase nunca o nosso) vemos diariamente um espetáculo de falácias, sofismas, estratégias de enganação travestidas de argumentos. Numa guerra na qual vencedores e vencidos sairão perdendo, a linguagem tem um papel crucial. Muitos dos pressupostos apresentados diariamente como verdades são, no máximo, proposições ideológicas da formação social que estamos inseridos.
Todo ato humano é político. A linguagem é um ato humano, portanto, político. E não tem como não o ser. Não há texto isento de ideologias, por isso, o leitor crítico precisa estar atento ao que lê, precisa encontrar nesses meandros linguísticos os pontos de vistas de seus autores e das empresas que estão por trás dos textos. Quem disse? É uma pergunta importante para entendermos melhor o mundo, mas a pergunta crucial é por que disse? Essa resposta pode nos mostrar muitas verdades.
Vemos em nossa mídia (impressa, digital, de grande circulação ou pequenos blogs) um falar para os seus. Ataques que tentam desqualificar o outro sem mostrar um melhor ponto de vista. Falar para os seus não convence ninguém, só incita ainda mais o ódio, marca nossa intolerância cotidiana a ferro e fogo. E essas marcas podem demorar muito para sair – se é que sairão. A linguagem que pode trazer beleza, que pode nos mostrar que o “Amor é fogo que arde sem se ver” é a mesma que ataca a índole das pessoas, das instituições. Condena sem provas, esconde, oculta ou escancara aquilo que se vê e o que não se vê, pois a linguagem cria o mundo, somos seres de linguagem.
O processo comunicativo como um todo é complexo e exige que os papeis sociais estejam claros. Temos que assumir que os discursos são políticos e têm um fim específico: convencer alguém de algo. Sejamos cada vez mais leitores críticos de nosso papel nesse mundo, é necessário assim, saber o porquê de determinado grupo sofrer ataques de parte da mídia, e saber por que outros não passam pelo mesmo ódio. Saber separar os argumentos fundados na estrutura da realidade das falácias. Encontrar nos textos as causas podem nos fazer entender as consequências. Ou seja, só com o olhar crítico de leitores cada vez mais atentos será possível não cair na tentação da intolerância e do ódio sem motivos.