A inserção externa brasileira e a crise pandêmica

Patrícia Andrade de Oliveira e Silva         

Desde a antiguidade as relações internacionais são relevantes para o processo de desenvolvimento socioeconômico do mundo. No século XXI, com o planeta cada vez mais globalizado e com uma economia internacional complexa, o valor da diplomacia e da construção de relações pacíficas entre as nações se tornou ainda mais expressivo. 

Observando historicamente o caso brasileiro, a nossa inserção internacional sempre foi pacífica, participando da grande maioria dos eventos internacionais e acordos relevantes. Essa posição gerou benefícios ao longo das décadas que vão além dos ganhos financeiros e comerciais, é preciso destacar o papel das conexões na criação do chamado capital social, que diferentemente do capital físico (derivado da acumulação de capital) e do capital humano (do conjunto de habilidades e competências), está relacionado a importância do networking, ou seja, o peso das relações como elo entre países, desenvolvendo a partir desse contato uma  ascensão internacional brasileira em fóruns multilaterais, por exemplo. 

Na primeira década dos anos 2000, observamos uma elevação tanto das transações comerciais (em especial com a China), quanto de outras relações com países do eixo Sul (a chamada cooperação Sul-Sul) através dos projetos de cooperação técnica, tais como o Projeto Brasil-África[1], que compreende a troca deexpertise entre os gestores de políticas públicas. Porém, com a crise política, econômica e social após 2014 essa conjuntura foi comprometida. A tensão política após 2016 se elevou expressivamente e acompanhamos muitas das conexões e projetos realizados, em especial com países do Sul Global, deixarem de ser uma prioridade nas relações internacionais brasileiras.Adicionalmente, a partir de março de 2020 temos a chegada da pandemia do novo coronavírus no país e internacionalmente uma busca incessante por medicamentos e vacinas capazes de proteger a população. Neste cenário, a cooperação internacional é de fundamental relevância para troca de experiências, financiamento e tecnologia. E foi justamente neste período que demoramos meses para nos integrar ao consórcio internacional de distribuição de vacinas Covax Facility[2] (lançado em abril de 2020, com participação brasileira apenas em setembro de 2020), além de diversas informações incorretas sobre tratamentos precoces, minimização da gravidade da doença e recusa do governo federal em adotar políticas severas de controle pandêmico.

Portanto, percebe-se a importância das relações internacionais e do capital social gerado através delas para a população, pois grande parte dos bens e serviços que consumimos são do exterior ou possuem componentes importados, com destaque para a questão pandêmica que, por si só, é uma questão global devido a urgência com que necessita ser resolvida para que os indivíduos tenham acesso a vacinas e medicamentos cientificamente adequados.

Referências:

Milani, C. R. S. Aprendendo com a história: Críticas à experiência da cooperação norte-sul e atuais desafios à cooperação sul-sul. Caderno CRH 25 (65), 2012.

SILVA, P.A.O; RODRIGUES, P. C. S. Brazilian Foreign Policy: crisis and preliminary effects on International Cooperation and Development. In: World Economics Association Commentaries, pp.4-6, 2021.



[1] Maiores informações em: http://www.abc.gov.br/imprensa/mostrarconteudo/1100

[2] Maiores informações em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/paf/coronavirus/vacinas/covax-facility

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