A importância da Governança Corporativa

Paulo Roberto de Faria e Oswaldo Pelaes Filho

“De acordo com o IBGC –Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, Governança Corporativa é “o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas de Governança Corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para sua perenidade.”
Entre os princípios da Governança Corporativa estão a “transparência” e a “responsabilidade corporativa”. Em suma, empresas transparentes e que agem com responsabilidade tendem a atrair mais clientes e investidores, o que aumenta o valor da empresa ao longo do tempo.
Apesar deste sistema amplamente conhecido e divulgado no mundo dos negócios, nos últimos anos temos acompanhado casos de empresas multinacionais com marcas fortíssimas que têm apresentado enormes problemas de governança. Com exemplo, no ano de 2015 o governo americano recebeu denúncia de que, intencionalmente, a empresa alemã Volkswagen havia colocado dispositivos de controle em seus motores a diesel para adulterar os testes de emissões de poluentes. Após as investigações, a empresa alemã admitiu a falsificação dos resultados dos testes, com impacto em mais de 11 milhões de carros em todo o mundo. Após a descoberta nos EUA, a empresa teve que pagar 25 bilhões de dólares em multa ao governo americano, sem contar as inúmeras consequências para os profissionais envolvidos, bem como um abalo incalculável à marca Volkswagen.
No Brasil estamos acompanhando os desdobramentos da terceira fase da Operação Carne Fraca, que tem como alvo esquema de fraudes contra o Ministério da Agricultura supostamente praticados por empresas do grupo BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão. Em 05/03/18, após a divulgação da operação da Polícia Federal sobre fraude em testes de qualidade de seus produtos, as ações da BRF caíam aproximadamente 16%, causando perda de valor da ordem de 4 bilhões de reais a seus investidores e uma enorme preocupação para todos os stakeholders, incluindo os clientes que passaram a duvidar da qualidade dos produtos.  
Ações da empresa ImClone Systems, empresa americana, tiveram alta em função de desenvolvimento de remédio contra câncer. A FDA não concedeu autorização para a sua comercialização. Familiares do CEO e Martha Stewart venderam ações um dia antes do anúncio oficial, denotando o conflito de interesses e o uso de informações privilegiadas. Executivos da Tyco International, empresa irlandesa, usaram de abuso de poder pois usaram recursos da empresa para comprar imóveis e obras de arte, o ex CEO – Dennis Kozlowski foi indiciado por sonegação de US$ 1 milhão em impostos sobre compra de obras de artes no valor de US$ 13 milhões. A Merrill Lynch, maior corretora de valores dos Estados Unidos, concordou em pagar de 100 milhões de dólares para encerrar um inquérito no Estado de Nova York sobre as acusações de que manipulara as recomendações de ações a fim de conquistar clientes para sua divisão de investimentos.
Apenas estes exemplos, envolvendo empresas multinacionais de diferentes países e com marcas representativas no cenário global, trazem dúvidas sobre os controles internos das empresas e sobre e eficiência das iniciativas de governança divulgados no mercado. No final das contas, nos dias de hoje vale a seguinte reflexão: até que ponto vale a pena a busca desenfreada pelo lucro sem se preocupar com a ética e com responsabilidade nos negócios? O grande prejuízo dos acionistas da BRF nos ajudam a esclarecer esta questão!”

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