A hora certa do incêndio

Cesar Veronese, Professor do CPV Vestibulares

Apesar de a Prefeitura da cidade de São Paulo ter restringido, na segunda gestão Kassab, a publicidade em espaços públicos, quem circula pela cidade é bombardeado em cada esquina pela propaganda dos novos relógios de rua.

Os anúncios, inscritos no espaço do marcador de cada relógio, ocupam toda a área do mesmo e poluem a vista do cidadão. “Voltei mais bonito” diz um dos slogans, exibindo-se no alto do totêmico marcador. Outro lembra: “Agora você não vai mais perder a hora”. E o paulistano se pergunta se o anúncio é uma brincadeira de non sense ou uma piada de humor negro. Então quer dizer que o relógio dará garantias de chegarmos pontualmente aos nossos compromissos, vencendo o trânsito, os engarrafamentos, os faróis quebrados, as ruas tomadas por manifestantes e os motoqueiros e skatistas autoproclamados donos das vias e calçadas da cidade?

Mas as gagues da Prefeitura não se restringem aos relógios. O usuário dos ônibus constatou a recente retirada dos terminais de tv instalados há não muito tempo nos coletivos. Claro que as informações veiculadas supunham a idiotização dos cidadãos: curiosidades sobre o próximo capítulo da novela, previsão do tempo, o novo recorde de lançamento de bumerangue no deserto da Austrália…

E em dezembro o paulistano que havia gostado das arvorezinhas de natal artificiais espalhadas pelo Centro, Paulista e Jardins no Natal de 2012 perguntou-se onde elas foram parar, uma vez que sumiram todas (exceção de 4 ou 6 na Oscar Freire) das ruas da cidade.

Gastos com arvorezinhas natalinas, terminais de tv em ônibus e estações de trem e metrô, relógios que quase sempre estão em pane… Isso sem falar do mobiliário dos pontos de ônibus, que a Prefeitura acaba de trocar. Todos de vidro, cuja transparência e beleza dura o tempo de o primeiro pixador dele se aproximar.

Enquanto isso, assistimos ao incêndio do Auditório Simón Bolívar no Memorial da América Latina em dezembro último e, na semana passada, o incêndio do Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios. O Memorial é tutelado pelo Estado e o Liceu por uma sociedade civil de direito privado. Explicações? Em ambos os casos, o público fica entre o diz-que-disse das autoridades a respeito dos alvarás vencidos ou não, até a notícia cair no esquecimento.

Para não esquecermos da Prefeitura, lembremos que o novo prefeito e ex- ministro da Educação, Fernando Haddad, acaba de realizar cortes no kit educação, reduzindo de 41 para 22 itens o material entregue aos alunos do ensino fundamental, eliminando inutilidades como canetas e cadernos!

E assim a Prefeitura, o Estado e a sociedade civil vão juntas, de mãos dadas com a negligência pela cultura. Até o próximo incêndio, quando ninguém saberá de nada e enquanto os cães ladrarem as chamas arderão.

Para ler outros textos do Professor Veronese, acesse blog CPV (link Dicas Culturais do Verô).

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