A grande beleza

Andrey Mendonça

Cinema é uma de minhas (poucas) paixões. Assistir o filme do diretor Paolo Sorrentino foi uma experiência antagônica como o é sua classificação comédia/drama.

A bela fotografia de Roma encantou-me, as edificações históricas, a arte, a música, as pequenas ruelas e as grandes avenidas que juntam, novo e antigo quase harmoniosamente.

Ao mesmo tempo, a trama é truncada e agonizante, as histórias dos personagens parecem desconexas, cheias de encontros e desencontros como numa espiral que cai ao final, num vórtice sem fim.

Todavia, o que mais me chamou a atenção reflexiva sobre o filme é o tema da banalidade da existência humana.

Isso ficou latente em um dos grandes diálogos do filme, quando Orietta começa a discorrer sobre sua vida “engajada” como mãe e mulher, seus livros, sua participação política, etc.

É então que o personagem principal da trama, Jep Gambardella que acaba de fazer sessenta e cinco anos como um “bon vivant” em Roma, começa e discorrer sobre quais pilares o “pseudo-engajamento” de sua amiga fora construído.

Sua descrição da vida é absolutamente realista e niilista. Uma vida de “baladas” repleta de prazer, sexo, drogas, música, dinheiro, poder e tudo aquilo que nós, meros mortais, desejamos.

Ao final da narrativa ele lembra à personagem engajada que só escreveu porque tinha o apoio da pequena gráfica do partido, que seu engajamento estava ligado ao fato de ser amante do líder revolucionário e que sua vida como mulher e mãe só era possível graças a quantidade de empregadas que possuía e que permitia-lhe estar ali, festejando a todo tempo, sem nem se lembrar de seus filhos.

Quando Orietta o acusa de misoginia, ele declara: “mas essa, minha querida, é a situação de todos nós aqui”. Todos estavam na festa, ou viviam em festa apenas para tentar esquecer o fato unívoco e relevante: sua miserabilidade.

Jep havia escrito um único livro em toda sua vida. E agora, após seu aniversário, fora colocado diante de uma questão, por que não escrevera mais?

A resposta era simples, não simplória. Jep ficara encantado certa vez com uma beleza indescritível de uma paixão da juventude e pelo resto de sua vida, não conseguira mais encontrar semelhante beleza num mundo vazio.

Ao final, uma experiência “mística” junto a uma freira considerada santa que estava em sua casa parece ter colocado uma luz em toda a escuridão que Jep vivia.

Porém, experiências assim são raras e não podem ser manipuladas (embora o tentem) pela religião em sua dimensão mágica.

Ao final, lembrei das palavras de Dostoiévski em “Os irmãos Karamázov”: só a beleza salvara o mundo.

Mas, onde encontrar essa beleza arrebatadora? Eis a questão!

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