A força da grana que destrói coisas belas

Por Cesar Veronese, Professor do CPV Vestibulares

Na semana passada o diretor teatral José Celso Martinez e a presidenta do Condephaat, Ana Lúcia Duarte Lanna, protagonizaram mais um capítulo da já quase cinquentenária briga entre o fundador do Oficina e o Grupo Silvio Santos.

O Teatro Oficina, sede do Grupo Uzyna Uzona, dirigido por Zé Celso, tem uma longa e bela história. É o mais antigo grupo teatral em atividade no Brasil. Há meio século suas apresentações encantam, escandalizam e, sobretudo, afirmam a qualidade de produções de reconhecimento internacional. Entre 2002 e 2006, por exemplo, para comemorar o centenário do lançamento d’OS SERTÕES, o grupo montou um espetáculo épico dividido em cinco partes e que totalizou 30 horas de duração. A repercussão foi mundial. Caravanas de todo o Brasil e de vários países (Alemanha, Rússia, Inglaterra, Austrália…) se deslocaram até São Paulo para assistir à montagem que garantiu seu lugar na história do teatro dos séculos XX-XXI.

A sede do Oficina, no Bixiga, é um magnífico projeto assinado por Lina Bo Bardi e integra o espaço interno com o externo através de vidraças generosas, teto retrátil e bananeiras plantadas junto à pista onde os atores e o público atuam interativamente. O terreno ao lado pertence ao grupo Silvio Santos. Primeiro o homem do baú queria construir um shopping, o que desencadeou uma contenda que se arrasta há décadas. Agora o Condephaat aprovou a construção de duas torres. E a discussão reacendeu-se.

Mas a verdade é que em São Paulo e no Brasil, como sintetizou Caetano Veloso num verso de “Sampa”, “a força da grana constrói e destrói coisas belas”. Infelizmente, mais destrói do que constrói. E os órgãos de tombamento se rendem, explicitamente, ao poder (e ao suborno) do dinheiro. Os exemplos podem ser colhidos a granel. Recentemente foi demolido, numa noite, na rua João Moura, em Pinheiros, aquele que talvez fosse o mais belo casarão estilo art déco de São Paulo.

Outras vezes não é nem a destruição de obras de inegável valor arquitetônico. É a destruição da paisagem natural. Pensemos no Centro Empresarial Mourisco, no Botafogo, Rio de Janeiro. É uma das maiores aberrações arquitetônicas do Planeta. Inaugurada em 1998, essa construção mastodôntica se impõe na forma de um conjunto de globos folheados a ouro. Tão horrorosa e espalhafatosa que, como se vê quando vamos do Centro para o Botafogo pelo caminho do Aterro, consegue ofuscar a visão do Pão de Açúcar! Em outras palavras: em nome do dinheiro e do mau gosto, a Prefeitura do Rio de Janeiro permitiu (quem levou o quê nesse negócio?) estragar o mais famoso cartão postal do Brasil.

Enquanto isso, para quem quer apreciar a boa arquitetura, o Condephaat e os nossos governantes nos deixam duas opções: viajar para o exterior ou contemplar (a moda macaca espalhada por São Paulo) a foto do belo imóvel antigo no saguão de uma geringonça qualquer que agora ocupa o seu espaço.

Outros textos do Prof. Veronese estão disponíveis no Blog do CPV (Dicas Culturais do Verô)

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