“A Festa de Despedida” (Dir.: Sharon Maymon e Tal Granit, Alemanha, Israel, 2014)

Eduardo Benzatti

Israel é definido como um “Estado Judeu e Democrático”, logo, o peso da religião (Judaísmo) deve ser considerado. O Brasil é um “Estado Laico” – ainda que o peso das religiões, em especial a católica, também deve ser levado em conta. Ao assistirmos “A Festa de Despedida” percebemos como somos um país careta até se comparado à Israel. O filme trata com humor – às vezes perverso – de um tema que aqui (e em boa parte do mundo ainda é tabu): a eutanásia. Brinca com a existência (ou melhor: a possibilidade de existência) de um Deus – mais ou menos onipresente: precisamos ligar para ele – ou espera que ele nos ligue – para saber se há ou não vaga no céu! De quebra, faz paródia de cantos religiosos que exaltam a Terra Prometida. E para completar, trata com leveza, delicadeza e humor da relação homoafetiva entre dois velhos – aqui uma relação assim, numa novela global causou um bafafá do tamanho da nossa caretice.

Engraçado, o Brasil vende uma imagem para o mundo de país desreprimido sexualmente (nas fotos de nossas mulheres nas praias, nas músicas de duplo sentido, por exemplos), tolerante racialmente, cordial com o outro, em especial com o estrangeiro e somos o oposto de tudo isso: matamos e ameaçamos o diferente, seja ele, diferente sexualmente, ou racialmente, ou religiosamente, ou politicamente. Somos um país violento em vários sentidos.

No filme, um idoso inventa uma máquina que pode abreviar a vida – e o sofrimento – daqueles que assim o desejarem. A máquina – e a equipe de idosos – que prepara uma partida digna a outros idosos é super solicitada dentro e fora do asilo onde moram. Questões como: decisões de fórum particular/leis e proibições do Estado; vida/morte; amor/sexualidade; compaixão com o outro/o peso dos preceitos religiosos na chamada “terceira idade” são tratados com humor e coragem. O final fica um pouco óbvio já em meados da trama, mas isso não prejudica o todo. Vale conferir o que Israel está produzindo cinematograficamente, pois aquilo que nos chega pela grande mídia é unicamente a visão de um Estado e um país em constante conflito com os Palestinos por questões territoriais. O que é fato. Mas, que a sua produção cinematográfica é muito boa também é verdade.

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