A Bruxa (Dir.: Robert Eggers, EUA, Canadá, 2015)

Eduardo Benzatti

Século XVII: Nova Inglaterra. A expulsão de uma família da comunidade local e a sua fixação em algum lugar próximo da floresta (as florestas nessas histórias sempre aparecem com um espaço misterioso e perigoso; lócus de forças malignas; um limite que não deve ser adentrado) é o ponto de partida para essa história que mistura terror e suspense psicológico em doses crescentes até culminar com o encontro entre o real e o imaginário; entre o desejo sexual e a demência; entre o tempo profano e ritualístico.

O que está em foco é a loucura como resultado de uma moral – e uma ética – cristã radical e sufocante. Tudo é pecado, tudo deve ser punido através de castigos divinos. Deus é implacável com todos, em especial, com as crianças (as maiores vítimas da paranoia criada no seio dessa pobre família – excluída socialmente e, pior, abandonada por um Deus cruel e vingativo que destrói a colheita e mata nossos filhos).

O que essa família tem que enfrentar – sem saber ao certo como – são as forças da Natureza (que ela entende, como “divinas”): o comportamento dos animais, do clima, da terra. Todas as manifestações da Natureza são lidas – de forma persecutória – como “avisos” de Deus ou do Diabo (tanto faz um ou outro, pois o significado é o mesmo: “devemos ser punidos”).
Misture tudo isso com a perversidade típica das crianças – presente em suas brincadeiras, frases, músicas “infantis”, apelidos, imaginação – e o todo é assustador.

O diretor e roteirista estreante Robert Eggers não precisa de efeitos especiais em abundancia – basta (por um lado técnico) uma fotografia soturna e (pelo outro, literário) insinuações que devem ser preenchidas pelo imaginário do espectador. É aí, na imaginação e na loucura de cada um onde as bruxas moram.

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