O Estrategista e a vontade de ouvir – II

Por George Bedinelli Rossi

Nos grandes Impérios (como a Pérsia antiga, algumas cidades gregas como Atenas e Esparta, Macedônia, Roma e o Império Mongol, dentre vários outros), aqueles que se encontravam nas posições hierárquicas superiores tinham um traço comum, qual seja: Observavam seus subalternos e estavam preparados tanto para reconhecer os que mais se destacavam como para ouvi-los e acatar ideias de quem quer que fosse. A competência em reconhecer ideias e ações importantes era essencial à sobrevivência e sucesso.

Certa vez quando da invasão mongol ao Império Chin (China antiga) o grande Khan (sim, ele mesmo: Temudjin ou se preferir Genghis) e suas tropas depararam-se com um obstáculo de defesa grandioso. Para adentrar no Império Chin, Genghis (sim, o Grande Khan) precisava tranpor um imenso portão de ferro, guardado por arqueiros, que separava duas cordilheiras e em cima de cada uma havia grande quantidade de arqueiros que destroçariam todo e qualquer ataque inimigo como Genghis descobriu após o primeiro ataque de seus notáveis arqueiros a cavalo.

Genghis e seus generais passaram horas tentando elaborar uma estratégia que permitisse ao Mongóis sobrepujarem as defesas Chin. Após vários planos infrutíferos, um jovem guerreiro mongol riu-se e disse ter a solução. Todos, surpresos diante do ímpeto e da coragem do jovem, ouviram-no atentamente. Genghis ao ouvir o plano do jovem guerreiro, rapidamente proveu-o com os recursos necessários. Após a invasão, com muito sucesso às defesas Chin, o próprio Genghis encheu-o de riquezas e promoveu-o a capitão, um posto abaixo do de general. Embora isto tenha ocorrido com o Grande Khan, era comum aos Mongóis tal comportamento.

Caro leitor, observe o que fez o grande Khan: Ouviu e confiou no plano de um jovem soldado que nunca vira antes. A situação para a empresa moderna seria o seguinte: Um alto executivo, como o Presidente, ao visitar a fábrica ouve e acata a sugestão de alguém da limpeza. Ou mesmo um diretor reune-se e ouve as sugestões dos técnicos de manutenção. Sim, algumas empresas como Sony, dentre outras, fazem a mesma coisa. O Walkman, da Sony, deve seu desenvolvimento e lançamento ao mercado a este tipo de comportamento.

Outro traço comum a esses grandes Impérios e a moderna empresa comercial é sua forte estrutura hierárquica. Nesses Impérios e em outros, há claramente definido quem é chefe e este tem plena consciência de suas responsabilidades e obrigações. O chefe é o responsável pela sucesso militar e consequentemente pela vida de seus subordinados. Estes, por sua vez, sabem que podem e devem confiar nas decisões de seu chefe. Interessante que nesses e em outros Impérios, o chefe era o guerreiro de maior competência na luta e na estratégia. Sim, não bastava ser um grande guerreiro, tinha que ter competências de um grande estrategista comprovadas nos campos de batalha. A divisão mongol ilustra esse ponto. A cada cinco guerreiros, um era escolhido por seus companheiros por sua bravura e inteligência para comandá-los. Depois, a cada dez o processo se repetia até chegar em cem e em mil guerreiros. Nos postos mais altos como o de general dos exércitos mongóis, os generais mais próximos a Genghis Khan vinham do reconhecimento dos guerreiros e do consentimento do próprio Genghis. Esta dinâmica imprimia um grau de confiança tão intenso nas tropas que em muitas batalhas garantiu a vitória. Este mesmo mecanismo pode ser observado em algumas empresas japonesas em que o chefe assume suas responsabilidades perante seus subordinados e estes defendem seus chefes.

Mas, tal qual nos Impérios e modernas empresas, a hierarquia não quer dizer desprezar os subordinados. Muito pelo contrário. A relação chefe subordinado implica que cada um participe conjuntamente com o outro na elaboração de estratégias para atingirem aos objetivos tanto militares quanto comerciais. E, nesta participação, há claramente delineado o tempo de planejamento que quando encerrado parte-se para a ação ou execução. Ou seja, uma vez terminado o planejamento executa-se o planejado. Não se fica voltando às discussões do que fazer, esta fase já passou, agora é a execução. Isto era a norma em Impérios como o Mongol, em Esparta e Athenas e em Roma assim como é na Intel.

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