Inflação e Taxa de Câmbio: Uma breve investigação no Brasil.

Raphael Almeida Videira

A economia mundial tem passado nos últimos meses por enormes instabilidades ocasionadas pela pandemia do novo coronavírus. De forma breve, os países passaram por algumas fases neste período que vão desde o lockdown (em alguns países, o lockdown foi uma política deliberada e em outros menos) e que acabou por impactar o fornecimento de alguns insumos importantes, como é o caso dos componentes eletrônicos, até o estímulo da economia com estímulos fiscais e monetários por parte dos governos, seja com foco para a garantia de renda para as famílias, seja com o objetivo de evitar a falência das empresas.

Em geral, os países, em maior ou menor grau, acabaram passando por este processo, que culminou em algumas consequências. Analisando o caso do Brasil, ocorreu um aumento da taxa de desemprego, dos níveis de pobreza, entretanto, este texto irá se concentrar em um problema importante e que aflige grande parte dos brasileiros. A pandemia acabou acentuando um problema que os brasileiros que vivenciaram a década de 1980 conhecem bem, que é o aumento continuado e sustentado de preços, conhecido como inflação.

O mundo está convivendo com uma inflação mais alta, justamente pelos estímulos monetários e fiscais ocorrido nos países, no Brasil inclusive, com o objetivo de evitar a maior desaceleração econômica. Porém, quando comparamos os maiores níveis de inflação no mundo, percebemos que a Brasil está entre os primeiros, como mostra o gráfico abaixo:

O que torna a situação brasileira mais complicada nos últimos meses, além das consequências de estímulos fiscais, monetários e desabastecimento de componentes (como foi o caso dos eletrônicos) é a desvalorização da moeda nacional. Ao analisarmos a taxa média de câmbio em Março de 2020 contra a mesma taxa em Outubro de 2021, percebe-se que a taxa foi de R$/US$ 4,88 para R$/US$ 5,53, o que significa que a desvalorização da moeda foi de aproximadamente 13%. 

A taxa de câmbio é uma variável econômica muito sensível e que é afetada por muitos fatores, tais como a instabilidade política, a perspectiva do quadro fiscal, dentre outros. Além disso, a taxa de câmbio possui a capacidade de interferir diretamente na inflação. Em estudos econômicos realizados, este efeito é conhecido na literatura como pass-through (3),  que é justamente o efeito da taxa de câmbio sobre a inflação. Para o Brasil, este efeito pode ser estimado entre 6% e 17% (4). 

Como a taxa de câmbio está altamente desvalorizada, ocorre um encarecimento dos produtos importados (sem que o preço em moeda estrangeira se altere, caso o preço em moeda estrangeira aumente, o efeito será potencializado) que são consumidos domesticamente e, consequentemente, ocorre um aumento do índice de preços doméstico, nesse caso a inflação brasileira.

Além da retomada de aumento da taxa de juros com o objetivo claro e evidente de controle inflacionário, o Banco Central também tenta, ao mesmo tempo, atrair fluxos de capital estrangeiro para o país, fornecendo uma remuneração mais atraente. O grande problema e a grande questão que fica é que se apenas tais medidas serão suficientes para amenizar o impacto da desvalorização cambial sobre o índice de inflação. Até o momento, parece que tais medidas não foram bem sucedidas.

Raphael Almeida Videira é Professor do Curso de Relações Internacionais da ESPM e Coordenador do CEEC-ESPM (Centro de Economia e Mercados da ESPM)

2 – http://www.bloomberg.com

3 – Goldfajn, Ilan, and Sergio R. da C. Werlang. “The pass-through from depreciation to inflation: a panel study.” Werlang, Sergio R., The Pass-Through from Depreciation to Inflation: A Panel Study (July 2000). Banco Central de Brasil Working Paper 5 (2000).

4 – Belaisch, Agnes. Exchange rate pass-through in Brazil. International Monetary Fund, 2003.

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