Sochi – Esqueceram do básico

Clarisse Setyon

Outro dia fui apresentada ao termo “maldição do vencedor”. O assunto era Economia do Esporte. O professor da Sorbonne falava sobre os países que ganharam (ganharam ?) o direito de receber os grandes eventos esportivos, com a Copa e a Olimpíada.

Ele falou da Espanha, do Canadá, dos Estados Unidos, enfim, até chegar ao Brasil.

O conceito básico é que os países superestimam seus gastos e as benesses que os eventos trarão para o país (entre elas, o famoso legado), “enfeitam o perú”, falam das festas, dos estádios e ginásios maravilhosos que serão construídos, etc.. Com isto (claro que não é só com isto…) ganham a preferência dos Comitês e pronto, saem vitoriosos e têm que começar a planejar e a trabalhar.

A maldição do vencedor é justamente aquilo tudo que foi prometido que não acontece, pelas mais diferentes razões, os custos que são inflacionados, os problemas sociais causados (Queremos hospitais padrão FIFA !!), os erros de planejamento (ou a falta deles), entre outros. E aí a festa acaba e o país fica com as contas a pagar.

Montreal, que hospedou os Jogos Olímpicos em 1976, tem uma estimativa de 40 anos para zerar o déficit gerado pelo evento. Talvez, em prejuízo, perca para a Grécia 2004. É discutível, dada a distância de quase 30 anos entre os dois eventos.

Mas não era sobre isto que eu queria falar … Sobre Sochi, há muito que se falar. Aliás, nossos jornais não demonstram grande interesse no evento. Em um deles, ontem, havia apenas um pequeno box na última página do Caderno de Esportes citando o jogo de hóquei entre Rússia e Estados Unidos. Ponto negativo para nossos periódicos.

Mas voltando a Sochi, me pergunto, por que é tão difícil fazer uma organização de evento que atenda os consumidores ? Leio que, o que vimos no Rio de Janeiro, nos Jogos Panamericanos, se repete na Rússia: assentos vazios e dificuldades para comprar ingressos. Um torcedor russo diz que a bilheteria tem apenas um ponto de atendimento, e uma fila enorme.

Um turista chinês diz não ter conseguido comprar ingressos pela internet, pois o site estava em russo.

Por que coisas básicas como estas, têm tanta dificuldade de serem bem feitas ? Qual o segredo deste fracasso ?

Foram US$ 50 bilhões os gastos para transformar esta cidade à beira mar em um parque olímpico. Foram anunciados 30 mil policiais para assegurar a tranquilidade do evento (a intenção é que sejam os jogos mais seguros da história), as instalações ficaram prontas meses antes da Olimpíada, mas os turistas não conseguem comprar ingressos … vai entender !

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