Web Summit: crise ajuda tecnologia a quebrar barreiras

Conselhos e recomendações para investidores e empreendedores do mercado de tecnologia não faltam nas conversas dos diversos painéis simultâneos realizados entre os cinco pavilhões do evento de inovação Web Summit 2022, esta semana, em Lisboa.

 Em um momento de investimentos mais conscientes nas empresas de base tecnológica, questionar se uma visão de negócios faz sentido, e não somente quando ela pode se tornar realidade e planejar muito mais antes de colocar uma ideia em prática, são algumas das dicas não só de experientes gestores de capital de risco, mas da base da indústria de tecnologia. 

“Você vê empresas de tecnologia trabalhando em algo e pode questionar ‘não sei se isso vai resolver alguma coisa ou se faz algum sentido’, ou dizer que em algum tempo isso vai funcionar’”, disse ontem Rene Haas, diretor-presidente da britânica Arm. A empresa desenha os microprocessadores embutidos em praticamente todos os dispositivos móveis do mercado, incluindo os iPhones e iPads da Apple. Haas abriu o painel “Fazendo as coisas valerem a pena”, no palco principal do evento. 

Ao lado de Haas, o engenheiro, designer e empresário americano Tony Fadell, que supervisionou todo o desenvolvimento de hardware, software e acessórios do tocador de MP3 iPod, lançado por Steve Jobs em 2001, disse que costumava colocar muitas ideias em produção rapidamente, assim que elas surgiam, mas aprendeu a pensar no entorno antes de entrar na parte prática. 

“Todo mundo tem ótimas ideias e há muitas delas por aí, mas o que aprendi após uma década de falhas é que você precisa pensar em todos os outros aspectos, incluindo vendas, marketing, modelo de negócios e finanças antes de se comprometer”, aconselhou Fadell que também é fundador da Future Shape uma empresa de investimentos e consultoria focada em engenheiros e cientistas envolvidos em alta tecnologia. “Todos nós temos experiência em algumas disciplinas, mas não em todas as necessárias para iniciar uma startup e torná-la bem- sucedida no longo prazo”. 

Começar com um time pequeno e multigeracional é outro ponto crucial para startups, aconselhou Fadell. “Não se pode montar um time pensando que todas as pessoas precisam ser como você, mas buscar pessoas com diferentes níveis de experiência e de energia.”

Para o executivo, que trabalhou ao lado de Jobs no lançamento do iPod, as primeiras pessoas que um empreendedor deve contratar são os “cristais” do time. “Primeiro são as pessoas que têm credibilidade e respeito suficientes para que outros as sigam. Depois, garanta que sua empresa terá múltiplos talentos, não só de tecnologia, mas de gestão e criatividade”, recomendou o empresário. 

Haas, que brincou dizendo ser o presidente da “maior empresa de tecnologia da qual ninguém nunca ouviu falar”, alertou empreendedores sobre o espaço no mercado de saúde para tecnologias que façam bons mapeamentos de pacientes, no lugar dos “grandes e barulhentos” equipamentos de ressonância magnética, bem como para o uso de inteligência artificial (IA) no combate aos eleitos das mudanças climáticas. “Em dez anos, IA vai ser uma sigla tão conhecida como Wi-Fi e, nos próximos quatro a dez anos, fará parte de cada computador que usamos”, prevê o executivo. 

Os especialistas notaram que ainda há espaço para criar dispositivos com boas funções e que a imaginação dos empreendedores não precisa ir muito longe. “Me dê um dispositivo vestível (wearable) que traga dados significativos sobre a minha saúde”, clamou o executivo da Arm para a plateia da Arena Altice, enquanto Fadell lembrava de outro mercado, segundo ele, ainda carente de evolução. “Precisamos de sensores muito melhores nesse mundo”, destacou. 

Segundo Fadell, empreendedores não devem se abater pelo cenário de desvalorização das empresas de tecnologia, escassez de investimentos em startups e escalada de juros na economia americana. “É só um pêndulo indo para um lado, que vai voltar. Não é o fim do mundo”, sinalizou o investidor. “Eu diria ‘comece agora’. As maiores quebras de barreiras acontecem em momentos como esse, de queda nos mercados”, completou Fadell. 

Mais tarde, no mesmo palco, Maëlle Gavet, presidente da gestora americana de investimentos em capital de risco Techstars, reforçou o conselho. “Abrace isso”, disse. “Momentos de baixa significam que ainda há pessoas por aí querendo investidor em você e acredito que essa seja a mensagem positiva no clima atual”, recomendou a executiva da gestora focada nas fases pré-semente, as mais iniciais de empresas de tecnologia. “Temos 3.300 empresas no portfólio, vimos milhares de empresas que passaram por tempos de desaceleração e centenas se saíram melhor depois disso.” 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/11/04/crise-ajuda-tecnologia-a-quebrar-barreiras.ghtml

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