Uso de IA em fotos de cardápios de delivery cresce e gera crise de confiabilidade

Já abriu um app de delivery morrendo de fome e deu de cara com um hambúrguer tão perfeito que até parece ter saído de um universo paralelo, e não da chapa do restaurante mais próximo? Cada vez mais estabelecimentos têm recorrido a fotos de comida geradas por inteligência artificial (IA) em plataformas como iFood e 99Food para cortar custos e tentar fisgar o consumidor pelo olho. O problema é que a tendência vem acompanhada de desconfiança e muitas reclamações nas redes sociais.

Nas últimas semanas, usuários no X (ex-Twitter) têm compartilhado fotos de cardápios com pratos que nunca existiram, apresentações altamente artificiais e refeições idênticas em estabelecimentos diferentes. Com ferramentas gratuitas como ChatGPT e Gemini, pequenos empreendedores conseguiram acesso fácil a imagens “perfeitas” para os cardápios digitais.

“A gente come com os olhos, o apelo visual sempre foi parte da publicidade e do marketing, mas o problema está nos excessos e na falta de cuidado”, diz João Finamor, professor de marketing digital da ESPM. “Desde sempre, as fotos de comida em cardápios e propagandas passam por edições para parecer mais atraentes. Agora, com a IA acessível, é possível fazer pequenos ajustes, como corrigir a luz, trocar o fundo ou a louça, mas não deve ser usada para criar um prato do zero”.

Para consumidores, como a consultora de planos de saúde Fernanda Nigri, 27, o impacto é direto na decisão de compra. “Eu já vi muitos restaurantes que tem foto de comida gerada por IA, mas nunca comprei neles. Quando vejo que é uma imagem criada com tecnologia, já rejeito a ideia de comprar naquele lugar”, explica. “Acho que essa prática cria uma barreira entre cliente e restaurante. Se a minha primeira impressão for uma foto de IA, já desconsidero a compra”.

O gerente de projetos Guilherme Thomaz, 24, também evita estabelecimentos que adotam o recurso. “Estou sempre atento para não pedir em restaurante que tem foto de IA. É algo que eu evito ativamente”, afirmou. Ele criticou a prática, considerando que “não representa fielmente o produto” e que a repetição de imagens entre diferentes estabelecimentos é comum. “Já vi inclusive mais de um restaurante usando a mesma foto gerada por inteligência artificial, não dá pra confiar”.

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