Toyota eleva aposta nos híbridos para o Brasil

A Toyota se prepara para lançar neste mês seu segundo carro híbrido produzido no Brasil. O Corolla Cross, nome do veículo que terá essa versão, absorveu o mais recente ciclo de investimentos da companhia no Brasil, que totalizou R$ 1 bilhão. 

Mas, para continuar a investir no país, a montadora japonesa será criteriosa na análise sobre condições de competitividade e previsibilidade.

Chang junta-se a outros executivos do setor que têm insistentemente condicionado futuros planos de investimentos ao cenário macroeconômico e à agenda de reformas. 

“Como filosofia, olhamos para médio e longo prazos para decidir os ciclos de investimentos. Precisamos conhecer as regulamentações de cada país, analisar o quanto a tributação é simplificada. Previsibilidade e competitividade são avaliadas. Vamos lembrar que a Toyota, assim como outras empresas, tem investimentos no mundo inteiro e, ao final, o que vai ser decido é onde a operação será competitiva ou rentável”, disse Chang. 

A preocupação do executivo é ter certeza de que o ambiente econômico do país será favorável à estratégia de exportação da companhia, que pretende manter uma média de 25% de vendas do novo veículo a outros países como forma de compensar o peso do dólar elevado na importação de peças. 

“Os custos no Brasil são altos e todo mundo sabe que parte dessas despesas pode ser resolvida com a reforma tributária. Não estamos pedindo incentivos; estamos falando como equalizar o custo logístico, o custo trabalhista. México e Coreia do Sul são interessantes para olhar. Nesses países a indústria está baseada na exportação, são competitivos”, afirmou. 

O Corolla Cross, um utilitário esportivo produzido em Sorocaba (SP), será exportado para 22 países da América Latina e Caribe, segundo Chang. Trata-se do maior número de destinos alcançado por um modelo da marca fabricado no Brasil. 

O primeiro híbrido produzido pela montadora no Brasil é o sedã do Corolla, lançado no fim de 2019. A versão híbrida representa 40% das vendas do modelo no país. O Corolla é também o primeiro híbrido flex do mundo. Ou seja, o motor a combustão, que alimenta o elétrico, pode ser abastecido com gasolina ou etanol. 

No debate sobre competitividade, durante a Live, Chang criticou as sucessivas prorrogações de incentivos fiscais regionais. Para ele, a importância desse tipo de benefício foi ajudar a desenvolver regiões em determinado período. “Somos contra a extensão ilimitada desses sistemas de incentivos. Isso tira a previsibilidade para nós, por exemplo”, destacou referindo-se ao fato de as quatro fábricas que a Toyota estarem no Estado de São Paulo. 

Segundo Chang, ao elaborar programas de investimentos, que levam em torno de cinco anos para serem cumpridos, a empresa analisa as regulamentações brasileiras e também o mapa dos concorrentes. “Com essas premissas elaboramos nossos planos. Mas se as regras vão mudando fica difícil”, completou. 

O mesmo raciocínio, destacou o executivo, vale para a matriz energética e motorização dos veículos. Se no passado reduzir impostos para carros com motores 1.0 “era o que o país precisava e ajudou a desenvolver a indústria” hoje, disse, a estratégia precisa voltar-se para as novas tecnologias. “E a eletrificação é uma tendência em todo o mundo”, destacou. “Isso vai trazer emprego, melhorar a renda, e a arrecadação dos impostos, que retornarão para o desenvolvimento do Brasil.” 

No Brasil, a Toyota vai manter a aposta nos híbridos como forma de desenvolver a eletrificação veicular. “E o etanol ajuda nesse processo”, afirmou Chang. Em outros países, a montadora também vende veículos totalmente elétricos, cujas baterias são recarregadas em tomadas, e também desenvolve modelo movidos a células de hidrogênio. 

Uma estratégia voltada para a exportação ajudaria também, diz o executivo, a reduzir a capacidade ociosa na indústria de veículos. O setor conta, hoje, com capacidade para produzir cerca de 5 milhões de veículos por ano. Com a pandemia, no ano passado, chegou a 2 milhões de unidades. 

Chang prevê aumento de 25% este ano. Apesar de distante do recorde de 3,7 milhões de unidades produzidas em 2013, a recuperação, em 2021, tende a ser mais rápida do que o previsto, destacou Chang, mesmo com falta de componentes e o temor de que o agravamento da crise sanitária exija medidas mais drásticas para o distanciamento social. 

“No ano passado, ninguém sabia o que ia acontecer e tivemos uma visão um pouco negativa. Temos uma visão otimista, mas também realista. A pandemia esta no ar e vamos manter os protocolos. Isso nos permite continuar com as nossas operações.” 

O executivo considera positiva, por outro lado, a possibilidade de o governo reeditar o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, programa que permitiu às empresas reduzir jornada e salários por um tempo limitado. “No ano passado a medida veio num momento em que não tínhamos produção e nem vendas. Qualquer medida que ajude o mercado, a economia, as empresas e a população em geral é bem-vinda.” 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/03/03/toyota-eleva-aposta-nos-hibridos-para-o-brasil.ghtml

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