‘Tesoura’ para genoma leva o Nobel de Química

A francesa Emmanuele Charpentier e a americana Jennifer Doudna dividirão o prêmio de US$ 1,1 milhão pelo desenvolvimento de uma ferramenta que permite a edição com precisão do DNA de animais, plantas e microrganismos 

Duas cientistas ganharam o prêmio Nobel de Química de 2020 por criarem a “tesoura” genética que pode editar o código genético, contribuindo para novas terapias contra o câncer e oferecendo a possibilidade de cura de doenças hereditárias. 

A francesa Emmanuele Charpentier e a americana Jennifer Doudna dividirão o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,1 milhão) pelo desenvolvimento do CRISPR/Cas9, que permite a edição com precisão do DNA de animais, plantas e microrganismos. 

 “A capacidade de cortar o DNA onde você deseja revolucionou as ciências biológicas”, disse Pernilla Wittung Stafshede, da Academia Sueca de Ciências, na cerimônia de premiação. 

Charpentier, 51, e Doudna, 56, tornaram-se a sexta e sétima mulheres a ganhar o Nobel de química. É a primeira vez desde 1964, que nenhum homem está entre os vencedores do Nobel de Química. 

Doudna já está usando o CRISPR na luta contra o coronavírus, como cofundadora da startup de biotecnologia Mammoth, que uniu-se à GlaxoSmithKline para desenvolver um teste para detectar infecções. 

O caminho da descoberta ao prêmio levou menos de dez anos, período de tempo relativamente curto pelos padrões do Nobel. 

O CRISPR era o favorito para ganhar o prêmio de química, apesar da preocupação com o fato de a tecnologia poder ser usada de forma inapropriada para, por exemplo, criar “bebês de designer”. 

“O enorme poder dessa tecnologia significa que precisamos usá-la com muito cuidado”, diz Claes Gustafsson, presidente do Comitê Nobel de Química. “Mas está igualmente claro que essa é uma tecnologia que proporcionará grandes oportunidades à humanidade.” 

Outra polêmica em torno do CRISPR é a disputa por patente entre as vencedoras da Nobel e uma equipe do Broad Institute do MIT e de Harvard. Gustafsson não quis dizer se o comitê do Nobel considerou outros candidatos. 

A inovação de Charpentier se deu no estudo da streptococcus pyogenes, uma bactéria antiga que pode causar amigdalite e septicemia potencialmente fatal nas pessoas, quando ela constatou que uma molécula anteriormente desconhecida do sistema imunológico pode se “prender” ao DNA. 

Ela publicou suas descobertas em 2011 e depois trabalhou junto com a bioquímica Doudna, da Universidade da Califórnia em Berkeley. Elas conseguiram recriar a tesoura genética da bactéria em tubo de ensaio e simplificar a estrutura molecular da ferramenta para facilitar seu uso. 

O DNA é uma cadeia de cerca de 6 bilhões de “letras” que instruem uma célula sobre o que ela deve fazer. O CRISPR/Cas9 permite não só cortar o DNA no ponto certo, como também reparar a junção para que erros não ocorram. 

Hoje, o CRISPR/Cas9 é uma ferramenta comum nos laboratórios de bioquímica e biologia molecular, usada para tornar as culturas agrícolas mais resistentes a secas ou desenvolver novos tratamentos para doenças hereditárias como a anemia falciforme. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/10/08/tesoura-para-genoma-leva-o-nobel-de-quimica.ghtml

Comentários estão desabilitados para essa publicação