Soft e Hard Power na Mudança da Percepção Global do Oriente Médio

Alice Silveira – Estudante de Relações Internacionais da ESPM e Analista do RAIA

João Pedro Meneguete – Estudante de Relações Internacionais da ESPM e Analista do RAIA

Mariana Bortuluzi – Estudante de Relações Internacionais da ESPM e Analista do RAIA

Maria Luiza Mastelaro – Estudante de Relações Internacionais da ESPM e Analista do RAIA

Raphael Videira – Professor do Curso de Relações Internacionais da ESPM e Coordenador do RAIA

O Oriente Médio é uma região conhecida historicamente por sua eficaz combinação de poderes tangíveis e intangíveis, reunindo forças econômicas e militares responsáveis por sua influência diplomática e religiosa. Deste modo, é possível pensar nos tipos de investimento mais alinhados ao Hard Power. Este conceito envolve a utilização da coerção para influenciar o outro, isso ocorre através do poder militar, poder econômico, entre outros[1].

O poder militar se concentra, principalmente, na Arábia Saudita e no Irã, países que lideram os investimentos em defesa a partir da importação de armamentos[2]. Junto a eles, destacam-se a Turquia, com o segundo maior exército da OTAN, e o Egito, com um dos maiores exércitos do mundo, apoiado pelos EUA. Sob a ótica econômica, Arábia Saudita e Qatar se destacam pelo uso estratégico da reserva petrolífera localizada no Golfo Pérsico direcionados a investimentos regionais como tecnologia, aquisições de empresas e entretenimento.

Entretanto, a região não concentra seus investimentos apenas no setor petrolífero ou mesmo militar. O Oriente Médio tem investido fortemente em estratégias para fortalecer suas relações diplomáticas e reformular sua imagem global, com foco em diplomacia cultural, investimentos em esportes e educação. Deste modo, é possível pensar na utilização da influência indireta, a capacidade de moldar a opinião do outro com meios como a cultura e a diplomacia. Este conceito é conhecido como Soft Power.

No quesito diplomacia cultural, diversas ações e acordos foram criados, os Emirados Árabes Unidos estabeleceram uma parceria com a França, resultando no Louvre Abu Dhabi, que se apresenta como um “museu universal”, um local para a coexistência de diferentes culturas. Segundo o príncipe herdeiro dos Emirados, Mohamed bin Zayed, “o Louvre Abu Dhabi reúne diversos ícones da arte que refletem o gênio coletivo da humanidade” (O GLOBO, 2017)[3]. O Qatar também investiu em instituições como o Museu de Arte Islâmica e o Museu Nacional do Catar, que representam o patrimônio cultural do país. Os esportes se tornaram outro pilar essencial na promoção da imagem, como a Copa do Mundo (FIFA) no Catar em 2022 e o anúncio da Arábia Saudita como sede da Copa do Mundo (FIFA) em 2034[4].

Além disso, é possível perceber que a influência do Oriente Médio no mundo dos esportes se estende muito mais do que apenas na FIFA, como em 2008, quando um grupo empresarial de Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), realizou a compra de um tradicional clube inglês, o Manchester City[5]. Seu envolvimento está muito além de apenas no futebol, sendo possível vê-lo também na Fórmula 1, como explicado por Alan Baldwin (CNN, 2024), onde diversas corridas passam a ser sediadas no Oriente Médio, além de muitas empresas árabes estarem patrocinando equipes diferentes[6]. O envolvimento tão grande do Oriente Médio em cultura e esportes, pode ser visto como uma utilização dos Soft Power para conseguir promover uma imagem mais limpa, além de ganhar destaque internacional ao se envolver em temas que são bem considerados.

Diante desse cenário, existem riscos que podem implicar na inserção do Oriente Médio e sua percepção no cenário internacional. Os conflitos que existem na região, bem como a instabilidade política de governos, podem prejudicar a adoção de estratégias de soft power, especialmente no sentido de grandes empresas/marcas consolidadas se instalarem na região, ou mesmo deixarem de possuir as parcerias já existentes. Além deste fator mais iminente, a restrição de direitos humanos pode ser um foco de repulsa de determinados investimentos internacionais e isso pode prejudicar o andamento de projetos de cooperação nas áreas de interesse e que foram citadas anteriormente, tais como: educação, cultura e esportes.

[1] “Soft power” é estratégia para países conquistarem poder e prestígio sem o uso da força. Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/soft-power-e-estrategia-para-paises-conquistarem-poder-e-prestigio-sem-o-uso-da-forca/.

[2] G1. Qual o tamanho dos efetivos militares dos países do Oriente Médio. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/04/06/qual-o-tamanho-dos-efetivos-militares-dos-paises-do-oriente-medio.ghtml. Acesso em: 7 de abril de 2025.

[3] INTERNACIONAIS, com Agências. Louvre de Abu Dhabi é inaugurado neste sábado. O Globo. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/louvre-de-abu-dhabi-inaugurado-neste-sabado-22057948. Acesso em 16 de maio de 2025.

[4] RIZZO, Marcel. Fifa confirma sedes para as Copas de 2030 e 2034; veja detalhes. CNN Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/esportes/futebol/futebol-internacional/fifa-confirma-sedes-para-as-copas-de-2030-e-2034-veja-detalhes/. Acesso em: 16 de maio de 2025.

[5] ESTADO, Agência. Grupo de Abu Dabi acerta compra do Manchester City. Gazeta do Povo. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/esportes/grupo-de-abu-dabi-acerta-compra-do-manchester-city-b5odoynxsmq0gq4qks3w3llji/. Acesso em: 16 de maio de 2025.

[6] BALDWIN, Alan. Interesse por Fórmula 1 cresce no Oriente Médio e entre mulheres pelo mundo. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/esportes/automobilismo/interesse-por-formula-1-cresce-no-oriente-medio-e-entre-mulheres-pelo-mundo/#:~:text=Jeddah sediou uma corrida pela,categorias de patrocinadores estão surgindo.. Acesso em: 16 de maio de 2025.

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