A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos elegeu o republicano Mike Johnson, um conservador com pouca experiência em liderança, como presidente da Casa nesta quarta-feira (25). A escolha põe fim a três semanas de impasse que começaram com a destituição de Kevin McCarthy, o último líder da Câmara.
A votação de 220 a 209 elevou o congressista de 51 anos, que cumpre seu terceiro mandato, à cadeira de presidente. O cargo estava vago desde a saída de seu correligionário em 3 de outubro, provocada pela ala radical do Partido Republicano.
A expectativa é de que o grupo esteja mais satisfeito com o novo líder, um advogado da Louisiana apoiado pelo ex-presidente Donald Trump que passou anos lutando por políticas conservadoras em temas como casamento e direito ao aborto.
A sua eleição encerrou um período de caos. Nas semanas seguintes à queda de McCarthy, os republicanos, que controlam a Câmara por uma margem apertada, rejeitaram três possíveis substitutos antes de escolherem Johnson.
Suas primeiras semanas no poder, porém, serão um teste, já que a Casa ficou paralisada diante da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas e se tornou incapaz de cumprir suas funções básicas. Além disso, a Câmara precisa aprovar uma nova lei de gastos até 17 de novembro, ou o governo vai paralisar.
Espera-se que, agora, o órgão volte ao seu funcionamento normal —líderes da Câmara geralmente se concentram em tarefas burocráticas, como arrecadação de fundos e contagem de votos. Isso, porém, será um desafio para Johnson, mais conhecido pelo seu papel na agenda de costumes.
Eleito pela primeira vez em 2016, ele será o presidente da Câmara com menos experiência em décadas. Seu principal feito político foi participar de um recurso malsucedido que tentava anular os resultados eleitorais nos estados em que Trump havia perdido em 2020 para o democrata Joe Biden, atual presidente americano. Nesta terça-feira (24), Johnson se recusou a comentar o caso a um repórter, que foi vaiado por outros republicanos.
O político é conhecido também por apoiar projetos que tentam restringir a imigração e proibir a exigência de máscaras em aeroportos. Em um podcast chamado Truth to be Told (Verdade seja dita, em português) lançado em março do ano passado, Johnson e sua mulher, a conselheira pastoral Kelly, mostram alguns de seus posicionamentos. Ao longo de 69 episódios, o político chama a agenda democrata de socialista e critica as acusações que Trump enfrenta por supostamente tentar reverter os resultados das eleições.
Em carta aos colegas, o novo líder prometeu garantir o funcionamento do governo dos EUA quando o atual orçamento expirar. A preocupação é justificada —a queda de McCarthy aconteceu após o republicano aprovar, com apoio democrata, uma medida temporária para manter o governo operando enquanto as leis orçamentárias para o ano fiscal de 2024 não fossem ratificadas.
Apesar do passado de Johnson, aventuras em votações controversas podem não ser a melhor estratégia dos republicanos, que controlam a Câmara por uma margem de 221 a 212. O racha ficou evidente nas últimas semanas, quando os republicanos indicaram três candidatos para presidente —Steve Scalise, Jim Jordan e Tom Emmer—, sem conseguir garantir os 217 votos necessários para a eleição.
O novo presidente terá que enfrentar o mesmo desafio que derrubou McCarthy e impediu seus possíveis sucessores —a incompatibilidade entre a ala radical republicana e o fato de que, com a maioria democrata no Senado e Biden na Casa Branca, nenhuma lei pode ser aprovada atualmente sem apoio dos dois partidos.
Já está na sua mesa um pedido de Biden para gastar US$ 106 bilhões (R$ 530 bilhões) para ajudar Israel e Ucrânia e fortalecer a fronteira dos EUA. A estratégia foi juntar pautas que não são unânimes entre os republicanos —embora o partido apoie amplamente o auxílio a Tel Aviv e o aumento da segurança na fronteira, não há consenso quanto à guerra que acontece no Leste Europeu.
O próprio Johnson votou contra dois projetos de lei dos últimos dois anos que pretendiam enviar ajuda a Kiev. “Os contribuintes americanos enviaram mais de US$ 100 bilhões em ajuda à Ucrânia no ano passado”, afirmou o político pelo X, antigo Twitter, em fevereiro. “Eles merecem saber se o governo ucraniano está sendo totalmente aberto e transparente sobre a utilização desse enorme montante.”
Logo após a vitória, Johnson falou que seu primeiro ato como presidente será apresentar uma resolução em apoio a Israel. “Vamos mostrar não só a Israel, mas ao mundo inteiro, que a barbárie do Hamas” é “miserável e errada”, disse ele. “O maior aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio está sob ataque.”
Em comunicado, Biden pediu que Johnson agisse rapidamente em relação ao orçamento. “Mesmo que tenhamos divergências reais sobre questões importantes, deve haver um esforço mútuo para encontrar um terreno comum sempre que possível”, afirmou o presidente.