A decisão do primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, e demais integrantes do governo de entregarem seus respectivos cargos deve aumentar a instabilidade política no país, já abalado por uma profunda crise econômica que se arrasta desde o ano passado.
“Não só temos uma ausência de governo e um vácuo político, mas teremos um grave problema com o funcionamento do Estado libanês”, disse Imad Salamey, cientista político na Universidade Americana de Beirute. “Estamos caminhando rumo ao desconhecido”.
Pressionado pelos protestos registrados em Beirute desde a explosão que matou ao menos 160 pessoas e deixou mais de 6 mil feridos na zona portuária da capital, Diab afirmou, ao renunciar, que o incidente foi resultado da corrupção endêmica que afeta o país.
A dissolução do governo mostra o grau de revolta do povo libanês contra a elite política do país. Para muitos deles, a explosão representou a incapacidade do governo de lidar com uma crise que abala o Líbano há vários meses.
A renúncia coletiva, porém, não deve resolver a crise. A economia do Líbano continua em queda livre, enquanto os manifestantes exigem uma reforma de todo o sistema político, não somente uma substituição do governo.
A Constituição libanesa foi elaborada com o intuito de dividir o poder entre cristãos e muçulmanos sunitas e xiitas. Muitos dos líderes políticos do país são ex-chefes militares que participaram da guerra civil que terminou em 1990. Agora, todos são vistos como responsáveis por décadas de corrupção e negligência que culminaram na explosão da semana passada.
O sistema político libanês também é uma arena de competição entre as potências regionais, como Irã e Arábia Saudita. Os iranianos apoiam o Hezbollah, movimento armado liderado por xiitas que também é o partido político mais poderoso do Líbano. Já os sauditas têm um histórico de laços com políticos sunitas do país.
O governo de Diab durou menos de oito meses. O agora ex-premiê chegou ao poder em janeiro, após a renúncia de Saad Hariri, que deixou o poder ainda em 2019 por causa dos protestos que já exigiam uma reforma política ampla e o fim da corrupção no Líbano.
Antes do anúncio de hoje, vários parlamentares e quatro ministros, entre eles o da Justiça e das Finanças, já haviam renunciado aos cargos, citando a explosão e a forma como Diab lidou com a tragédia como motivos para deixar o governo.