Falando em Berlim, em encontro virtual que reuniu 30 ministros ambientais do mundo, Merkel apoiou meta mais ambiciosa de corte de emissões para a UE
Na retomada econômica do pós-pandemia, o debate sobre alocação de recursos orçamentários será difícil, reconhece a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel. Ela defende, contudo, que a recuperação depois da covid-19 siga um caminho sustentável, de proteção ao clima e à biodiversidade.
“Será ainda mais importante estabelecer programas de estímulo econômico para manter um olhar atento à proteção climática e investir em tecnologias de futuro”, reforçou Merkel, durante os Diálogos de Petersberg, um fórum de alto nível que o Ministério do Meio Ambiente alemão promove há 11 anos.
Este foi o primeiro evento climático importante de 2020 depois do início da pandemia. O ano tinha uma série de eventos ambientais relevantes, todos adiados em razão da crise.
Falando em Berlim nesta terça-feira (28), em encontro virtual que reuniu 30 ministros ambientais do mundo, Merkel apoiou uma meta mais ambiciosa de corte de emissões para a União Europeia em 2030.
Foi a primeira vez que a chanceler alemã deu endosso público a um esforço maior do bloco.
Merkel defendeu que mais países adotem um preço ao CO2 como maneira eficiente de reduzir emissões de gases-estufa, medida adotada pela Alemanha em 2019.
“Seria desejável que tantos países quanto possível apostassem nesta medida. Uma ampla participação evitaria distorções competitivas”, disse.
“Temos que nos afastar dos combustíveis fósseis, buscar energias renováveis e economizar energia”, continuou.
Merkel disse que “economia e ecologia devem andar juntas” e defendeu maior proteção à biodiversidade. “Segundo os cientistas, 60% de todas as doenças infecciosas foram transmitidas de animais para humanos nas últimas décadas”, em função da degradação natural e proximidade dos humanos com animais selvagens.
A política alemã, que registra uma alta de 11 pontos nas pesquisas de popularidade, alcançando 79% em razão de sua atitude no enfrentamento da pandemia, também defendeu o multilateralismo. “O coronavírus nos mostra, mais uma vez, ainda que de maneira dolorosa, que a cooperação internacional é crucial.”
“Quer se trate de uma crise de coronavírus, financeira ou climática, isto se aplica a todos os principais desafios: quanto mais agirmos juntos, melhor poderemos evitar ou conter o sofrimento humano e a turbulência econômica”, completou a premiê.
Lembrou que o Green Deal transformará a Europa no primeiro continente neutro em carbono em 2050. “Ainda temos muito a caminhar”, reconheceu.
“Vimos que as emissões caíram recentemente, mas não devemos nos iludir. Isso se deve, essencialmente, ao desligamento de nossa vida econômica e privada”.
Ela aplaudiu a intenção do bloco de ampliar o mercado de carbono para vários setores da economia e lembrou que, em 2019, a Alemanha introduziu preço para o CO2 nas emissões de transporte e aquecimento das casas.
“Assim aumentamos os incentivos para que empresas e famílias invistam para reduzir suas emissões de CO2 e seus custos futuros.”
“É ótimo que mesmo em tempos de coronavírus, a chanceler esteja colocando a questão climática no topo da agenda política global”, disse Jan Steckel, chefe do grupo de clima e desenvolvimento do think tank alemão MCC.
Ele diz que além das atuais usinas a carvão existentes, com capacidade de 2045 gigawatts, outras com capacidade de 500 gigawatts estão em construção ou em planejamento no mundo, principalmente na China e na Índia. Isso compromete as metas de conter o aquecimento em 2oC, presente no Acordo de Paris.
Há projetos arquivados de usinas a carvão com capacidade de geração de outros 300 gigawatts. “É preciso um esforço adicional internacional para que não sejam revividos como parte de estímulo econômico após a crise do coronavírus”, seguiu Steckel.
ONU
O secretário-geral da ONU, António Guterres, encorajou o bloco europeu a continuar a mostrar liderança global, e pediu a todos os membros do G-20, o grupo das economias mais ricas do mundo, que também se comprometam com neutralidade climática em 2050.
As 20 economias mais industrializadas são responsáveis por 85% da economia mundial e por 80% das emissões globais. “A chave para enfrentar a crise climática são os grandes emissores”, disse o secretário-geral. “Sem a contribuição dos grandes emissores, todos os nossos esforços serão condenados”.
Guterres disse que alguns países, incluindo o Chile, já melhoraram suas metas climáticas e outros 114 anunciaram que farão o mesmo. O compromisso de alcançar neutralidade em carbono até 2050 foi anunciado por 121 países.
“O mais alto custo é o de não fazer nada”, seguiu Guterres. “Quando sairmos da pandemia temos oportunidade de construir o mundo de forma mais sustentável, fazendo a transição para a economia de baixo carbono”.
O secretário-geral enumerou tópicos para a retomada econômica mais limpa, no pós-pandemia. “Como gastamos trilhões para nos recuperar da covid-19, vamos investir na transição verde para gerar empregos”, listou. “Os investidores não podem continuar a ignorar o crescimento sustentável.”
“Estes são dias sombrios, mas não sem esperança”, acrescentou Guterres. Alguns ministros de Meio Ambiente falaram depois dos discursos de Merkel e Guterres.
O ministro japonês, Shinjiro Koizumi, disse que gostaria de criar uma plataforma para compartilhar experiências sobre como recuperar melhor a economia e em um caminho mais ecológico diante da covid-19.
Vídeos de 26 ministros de Meio Ambiente do mundo foram compartilhados com suas mensagens no site do evento. O Brasil não enviou nada. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, participou de manhã da sessão do evento fechada ao público.