Financial Times: Uma das bandeiras do governo Joe Biden, o projeto de hidrogênio verde enfrenta dificuldades com o aumento da oposição da sociedade local, mostrando a complexidade para se implementar uma tecnologia que era considerada fundamental para a transição energética.
O hub ARCH2 (Appalachian Regional Clean Hydrogen Hub), que inclui uma bacia de xisto que ocupa três estados no país (Virgínia Ocidental, Ohio e Pensilvânia), foi projetado para produzir hidrogênio usando principalmente gás e captura de carbono até meados de 2030.
Mas o projeto de US$ 6 bilhões, que inclui empresas de combustíveis fósseis como EQT, CNX e Marathon Petroleum como desenvolvedores, enfrenta oposição de comunidades locais e grupos ambientais e ainda é questionado sobre sua viabilidade comercial.
No mês passado, mais de 50 grupos ambientais locais pediram ao Departamento de Energia a suspensão das negociações envolvendo o ARCH2 até que haja mais informações sobre o projeto.
“Essa é apenas a mais recente reinvenção da indústria de [petróleo e gás] na tentativa de se manter relevante e ser vista como uma solução para um problema que eles mesmos criaram: a crise climática”, disse Tom Torres, coordenador da campanha de hidrogênio do Instituto Ohio River Valley e um dos que assinaram a carta.
O hidrogênio “limpo” tem sido elogiado por seu potencial para tornar verdes alguns setores complicados de realizar a transição como a navegação e a produção de cimento. A vasta quantidade de gás barato dos EUA tornou o país em um local atraente para projetos como o ARCH2, que usam gás e captura de carbono, também conhecido como hidrogênio azul.
No entanto, a implementação do hidrogênio azul é controversa porque gera emissões e necessita da tecnologia de captura de carbono, que ainda não se provou ser eficiente no custo-benefício em grande escala. Um estudo de pesquisadores de Stanford e Cornell descobriu que a quantidade de emissões do hidrogênio azul era 20% maior do que queimar gás ou carvão para aquecimento.
Os grupos ambientais afirmam que os projetos de hidrogênio azul são uma salvação para a indústria de combustíveis fósseis e que os fundos devem ser direcionados para o hidrogênio verde, que é produzido com base em energias renováveis.
Até 2030, a expectativa é que os Estados Unidos se tornem o maior produtor mundial de hidrogênio limpo, com o hidrogênio azul representando mais de três quartos da produção, de acordo com a consultoria BloombergNEF. O hidrogênio verde, gerado com eletricidade renovável, representará a parte restante.
Shawn Bennett, líder do projeto ARCH2 e ex-vice-secretário assistente de petróleo e gás na administração Trump, defendeu as credenciais ambientais e a viabilidade comercial do hub.
“(O hub não) causaria a perfuração de novos poços [de gás]”, afirmou Bennett, que atribuiu a resistência local a um “mal-entendido” sobre o desenvolvimento do projeto. Ele afirmou que a ARCH2 estava em negociações com o Departamento de Energia, mas ainda não concluiu quais serão os locais de suas instalações de hidrogênio.
“Sem financiamento, é muito difícil… começar a fazer promessas e compromissos às comunidades”, disse Bennett, que testemunhou em uma audiência na Câmara da Pensilvânia em 17 de junho sobre hubs de hidrogênio, onde grupos ambientais e legisladores levantaram preocupações sobre o tema.
Um porta-voz do Departamento de Energia afirmou que o hidrogênio limpo é “essencial” para uma forte economia de energia verde e que os hubs de hidrogênio “ajudarão a desbloquear todo o potencial desse combustível versátil”.
A administração Biden estabeleceu a meta de produzir 10 milhões de toneladas métricas de hidrogênio limpo anualmente até 2030, saindo praticamente do zero atualmente e se equiparando ao tamanho da indústria de hidrogênio “sujo”, derivado de combustíveis fósseis e que produz uma quantidade significativa de emissões.
A resistência da comunidade tem prejudicado outros projetos de hidrogênio nos Estados Unidos como a CMG Cleantech, cuja sede fica na França, mas tinha um projeto de parque tecnológico renovável de US$ 113 milhões na Flórida e que acabou sendo transferido para outro local após oposição dos moradores, atrasando o projeto em oito meses.