Por que Sam Altman foi demitido da Open AI?

No último dia 6, Sam Altman era uma das pessoas mais importantes do planeta. Foi quando a OpenAI realizou sua conferência de desenvolvedores. Todos os olhos estavam voltados para ele. Afinal, em um ano, o executivo levou a empresa a valer US$ 90 bilhões (cerca de R$ 441 bilhões).

Altman atuou como mestre de cerimônias. Anunciou avanços impressionantes no modelo de inteligência artificial da empresa, inclusive que qualquer pessoa poderia criar sua própria inteligência artificial e vender seus serviços pelo site da empresa. Parecia um novo Steve Jobs. Do palco, casualmente, anunciava mudanças tecnológicas capazes de afetar o planeta inteiro.

Corte para o dia 17 de novembro. Sam Altman é sumariamente demitido pelo conselho da OpenAI. A notícia que circula é que nem Altman nem os investidores da empresa sabiam da demissão até minutos antes. A demissão foi justificada afirmando que Altman não estava sendo transparente, ou seja, havia mentido para o conselho.

Geralmente, comunicados de demissão são documentos chatos e previsíveis. Cheios de platitudes de que a pessoa vai “dedicar tempo à família” e coisas do tipo. No caso de Altman, o documento é uma bomba atômica. Culpa o próprio demitido pela demissão com palavras duras.

O que Altman teria feito para isso? A hipótese mais provável até agora é que houve um racha interno no conselho, que foi vencido pela ala de “trust and safety” (confiança e segurança).

Sam queria andar rápido, implementar produtos novos sem olhar para as consequências. Isso esbarrou no fato de a OpenAI ter uma estrutura corporativa incomum. Ela é regida por uma entidade sem fins lucrativos, que por sua vez, controla uma subsidiária com fins de lucro. É esta que tem investidores e gera dinheiro.

Conheço bem essa estrutura. Ela é também aplicada pela Mozilla, criadora do browser Firefox. Por 6 anos integrei o conselho da Mozilla e vi como a dinâmica corporativa é distinta quando há uma entidade sem fins lucrativos controlando as principais decisões do grupo.

O racha foi grave a ponto do presidente do conselho também sair da empresa, algo pouco falado, mas revelador. A ala ligada à cautela prevaleceu e demitiu Sam.

Há rumores de que os novos produtos lançados no dia 6 de novembro possuíam falhas de segurança, inclusive a possibilidade de vazar dados dos usuários. Isso teria levado a própria Microsoft, principal investidora da OpenAI, a suspender o uso interno de produtos da empresa.

Outro fator é que a irmã de Altman fez acusações contra ele. Mas esse não parece ter sido o fator da sua demissão (se fosse, o presidente do conselho não teria também renunciado).

A decisão coloca a OpenAI em estado de incerteza. Vários membros da equipe, incluindo cientistas e desenvolvedores, pediram demissão em solidariedade.

Sam foi substituído por Mira Murati, uma engenheira albanesa brilhante, de 35 anos, que gosta de usar jaquetas de couro e sorrir enquanto explica as possibilidades da IA.

A queda de Altman é uma vitória também para Elon Musk. Quando estive com Altman no Brasil em agosto, ele deixou claro que a relação dele com Musk havia se deteriorado a ponto de serem hoje inimigos. Musk está rindo enquanto Sam vive a aurora do seu ocaso.

Ainda vai ter muita água sob ponte. As dores do parto da inteligência artificial continuam.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ronaldolemos/2023/11/por-que-sam-altman-foi-demitido-da-open-ai.shtml

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