Pesquisa sobre proteínas vence Nobel de Química

Dois americanos e um britânico ganharam o Prêmio Nobel de Química de 2018 por pesquisas sobre os princípios da evolução e que podem ajudar a desenvolver novas proteínas para uma série de usos, de detergentes não poluentes a medicamentos contra o câncer.
Os resultados desse trabalho incluem o medicamento controlado mais vendido do mundo – o anticorpo injetável Humira, vendido pela AbbVie, para o tratamento da artrite reumatoide e de outras doenças autoimunes.
Frances Arnold (Instituto de Tecnologia da Califórnia), George Smith (Universidade do Missouri) e Gregory Winter (Laboratório de Biologia Molecular MRC, do Reino Unido) receberam o prêmio por estudos científicos pioneiros na área de enzimas e anticorpos.
Arnold, que é a quinta mulher a ganhar um Nobel de Química, vai receber metade do prêmio de 9 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1 milhão), e Smith e Winter dividirão a outra metade.
“Algumas pessoas criam cães e gatos. Eu crio moléculas”, disse Arnold após saber da premiação, que ela classificou de surpresa total.
A Real Academia de Ciências da Suécia informou que Arnold transformou a ciência ao usar os princípios da evolução – mutação genética e seleção – para desenvolver novos tipos de proteínas muito rapidamente. Ela é a segunda mulher a receber um Nobel este ano. A canadense Donna Strickland dividiu o prêmio de Física.
Sua pesquisa sobre enzimas – as proteínas que catalisam reações químicas – estabeleceu os fundamentos para o desenvolvimento de melhores drogas químicas e farmacêuticas industriais.
“Hoje há enzimas nos detergentes que usamos nas nossas máquinas de lavar louça que foram desenvolvidas por esse processo. Há também enzimas que podem produzir novos tipos de biocombustíveis ou que agem como catalisadoras na formação de elementos constitutivos de novos medicamentos”, disse o presidente da comissão de Química do Nobel, Claes Gustafsson. “Tudo isso se pode fazer com as enzimas que Frances Arnold desenvolveu.”
Smith criou um método de usar um vírus para infectar uma bactéria e produzir novas proteínas, enquanto Winter utilizou a mesma técnica de fagoterapia para desenvolver a evolução de anticorpos, com o objetivo de produzir medicamentos mais eficazes.
O Humira, que contém a substância ativa adalimumabe, foi o primeiro medicamento desenvolvido com base no trabalho de Winter a receber autorização para ser comercializado, em 2002. Desde então, tornou-se um enorme sucesso, com vendas de US$ 18 bilhões no ano passado.
“Com este remédio, um número muito menor de pessoas com artrite reumatoide é obrigado a usar cadeira de rodas”, disse o imunologista Dan Davies, da Universidade de dr Manchester.
Outras drogas de ponta com anticorpos usam a mesma tecnologia, incluindo vários tratamentos que se mostraram
altamente efetivos contra o câncer.
Winter disse ter se surpreendido com o enorme sucesso comercial das drogas com anticorpos, do qual ele duvidava em boa parte por causa dos altos preços cobrados pela indústria farmacêutica.

https://www.valor.com.br/internacional/5903365/pesquisa-sobre-proteinas-vence-nobel-de-quimica#

Comentários estão desabilitados para essa publicação