Como reflexo do cenário europeu, o dicionário Collins elegeu “permacrise” a palavra de 2022. O termo descreve a sensação de viver em um período prolongado de instabilidade e insegurança, explica a editora.
“Permacrise resume, de forma sucinta, o quão horrível o ano foi para muita gente”, afirmou Alex Beecroft, diretor-geral da Collins Learning, pouco após o anúncio da escolha, nesta terça (1º). A palavra foi usada pela primeira vez no ambiente acadêmico em 1970, mas proliferou em citações nos últimos meses.
Pudera: com uma guerra entre Rússia e Ucrânia na vizinhança, desdobramentos que geram alta nos preços e despertam insatisfação, além da emergência climática e do caos político em muitas de suas nações, a Europa mergulhou em crises sucessivas desde o início do ano.
O cenário no Reino Unido, onde o Collins é publicado, foi igualmente agitado. Com a alta no custo de vida e a maior inflação em quatro décadas, o país assistiu à queda de dois líderes: o premiê Boris Johnson renunciou em julho e sua sucessora, Liz Truss, fez o mesmo em outubro, após nem 50 dias no cargo.
“Permacrise: um termo que incorpora perfeitamente a sensação de passar de um evento sem precedentes para outro, enquanto nos perguntamos desolados quais os novos horrores podem estar ao virar da esquina”, define um texto no blog do Collins.
A lista do ano do dicionário também abarcou outros termos que dialogam com os principais acontecimentos geopolíticos, como Kyiv —forma transliterada do nome da capital da Ucrânia a partir da língua ucraniana, em oposição a Kiev, transliteração padrão da língua russa.
“Sportswashing” (lavagem esportiva) também foi mencionada. O termo define a prática de um governo de reputação duvidosa de organizar eventos esportivos globais para colocar em segundo plano questões sensíveis, a exemplo do que ocorre no Qatar, sede da Copa e acusado de violações de direitos humanos.
Como uma amarga homenagem a Boris, “partygate” também entrou na lista. O termo foi cunhado para descrever as festas realizadas em Downing Street, a sede do governo britânico, durante o período de lockdown para conter a pandemia de Covid-19. O caso foi estopim para a queda do político conservador.
Em 2020, primeiro ano da pandemia, o Collins definiu “lockdown” como a palavra do ano. No ano passado, a eleita foi NFT, sigla para “token não fungível”, um certificado de autenticidade digital.
A escolha da palavra do ano parte do banco de dados Collins Corpus, que reúne mais de 18 bilhões de palavras, mas também conta com a revisão de jornais e plataformas sociais pela equipe responsável para identificar possíveis novos termos, explicou Helen Newstead, consultora de conteúdo linguístico do dicionário Collins Dictionary, ao jornal americano The Washington Post.
