No mercado digital chinês, ‘o tigre briga com o leão’

Uma briga de gigantes começa a despontar no comércio eletrônico na China. E o prêmio é conquistar corações e mentes dos consumidores. “É como uma briga entre um leão e um tigre”, observa Jeffrey Towson, um dos mais reconhecidos especialistas em mercados digitais da Ásia.

Ex-chefe de investimentos para o Oriente Médio, Norte da África e Ásia-Pacífico do príncipe saudita Alwaleed bin Talal, apelidado pela revista Time de “Warren Buffet árabe” e atual professor da Universidade de Pequim e da China Europe International Business School (CEIBS), sediada em Xangai, Towson escreveu diversos livros sobre a transformação dig chinesa. O investidor, consultor, palestrante e escritor americano vive atualmente entre a Ásia e os Estados Unidos. Nesta semana, estava viajando por São Paulo e Rio para encontrar clientes e proferir palestras.

Sobre a importância de prestar atenção no mercado chinês, Towson ressalta que muitas companhias ocidentais sabem que, ao vigiar o gigante asiático, “podem ter um vislumbre do que está por vir”. E um cenário que se consolida por lá é o de “um embate entre empresas que são mestras em atrair a atenção, como o Bytedance [que opera plataformas de informação e entretenimento, entre as quais o Tik Tok e o musical.ly] e, de outro lado, aquelas que são mestras em infraestrutura como o Alibaba, sendo que os dois grupos estão atrás da mesma coisa, conquistar o consumidor”. 

Nessa luta entre “leão e tigre”, pondera o professor, “ainda que ambos sejam animais muito fortes, nós não podemos saber realmente qual o resultado ou as consequências desse embate”. Towson explica que empresas como o Alibaba investiram durante mais de uma década em criar uma intrincada operação logística nos países onde atuam. 

“São anos construindo a logística, peça por peça, com centros de distribuição e armazenamento, robôs, frotas de caminhões. Isso é realmente uma força dessas companhias, porque podem entregar produtos em qualquer cidade em 24 horas ou 48 horas. Grupos como Alibaba e a americana Amazon são um tipo de modelo que foca em infraestrutura.” 

De outro lado, pondera o professor da Universidade de Pequim, “há operações como Tik Tok, Shein [plataforma e aplicativo especializado em moda] e Shopee [marketplace de Cingapura] que são muito bons em cativar a atenção das pessoas”. De acordo com o especialista, “muita gente assiste vídeos no TikTok por, pelo menos, uma hora ao dia, enquanto ‘marketplaces’ tradicionais como Amazon e Alibaba não têm esse tipo de atenção”. 

Nessa competição de vendas, porém, há, por enquanto, diferenças significativas entre o que funciona em um ou outro modelo. “O Tik Tok no e-commerce é muito bom em marcas fashion, porque moda é muito similar a entretenimento. É parecido com ‘eu amo meus influenciadores’ ou ‘amo minhas marcas’, mas quando chega a hora de comprar pão, leite e detergente, isso é mais [território] das especialistas de infraestrutura. Então vemos esses dois tipos de companhias começando a lutar entre si.” 

O professor aponta ainda um interesse dos conglomerados e dos investidores chineses na América Latina. “Veja companhias como Tencent e Alibaba. São grupos que investem em centenas ou até milhares de empresas todo ano. Então é possível vê-los fazendo negócios na América Latina, cada semana ou mês. Há, no momento, uma aceleração da tecnologia no Brasil, em setores como mídia, entretenimento, varejo, moda e bancos. Não ficaria surpreso se o Alibaba, da mesma forma que o fundo japonês Softbank, começar a comprar participações em companhias brasileiras, porque estão pensando em fazer negócios na América Latina.” 

O especialista lembra ainda que “temos visto as marcas chinesas vindo para a América Latina, trazendo tecnologia e capital”. Para Towsen, “há muitas marcas de moda e varejistas no Brasil e será interessante ver como vão responder [à entrada de empresas chinesas]”. 

Os brasileiros já estão cientes que a Shein, por exemplo, está vendendo muitos produtos no país e nem estava no mercado local há três anos, diz o investidor. “É melhor prestar atenção porque os chineses claramente estão vindo”, alerta Towsen. 

Um relatório da XP aponta que a plataforma Shein, especialista em moda feminina, já está montando uma estrutura local para expandir a operação no país. “A companhia já está presente no Brasil através do seu aplicativo, com produtos importados, mas recentemente estruturou um escritório e um Centro de Distribuição, além de estar buscando parcerias com fornecedores locais”, detalham os analistas. 

A Shein baseia sua estratégia de venda em uma forte presença no TikTok e na ação em parceria com influenciadores digitais. Por conta desse modelo, a marca tem grande apelo entre os consumidores mais jovens, da geração Z. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/02/24/no-mercado-digital-chines-o-tigre-briga-com-o-leao.ghtml

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