Microsoft cuida do estresse do ‘home office’

Organizar o trabalho dos funcionários em casa, por causa da covid-19, não foi um grande esforço para a Microsoft: entre seus quase mil empregados no Brasil – dos quais 90% estão em regime de “home office” – a maioria já tinha alguma experiência desse tipo. A preocupação, na companhia, é outra: quanto tempo as pessoas terão de ficar isoladas e que consequências emocionais isso pode trazer para a equipe. 

“Temos de garantir a saúde mental dos funcionários, que estão passando por um grande momento de estresse”, diz Tânia Cosentino, presidente da Microsoft no Brasil. “Há uma sobrecarga emocional porque, além do trabalho, as pessoas estão preocupadas com seus filhos, pais, amigos, familiares que são médicos etc.” 

A executiva é um exemplo disso. Com uma agenda pesada de viagens e visitas a clientes, Tânia se acostumou a trabalhar em hotéis, aviões e escritórios fora da Microsoft. Apesar disso, está tendo de se reorganizar para lidar com todas as tarefas profissionais e familiares, que passaram a exigir uma nova abordagem com o surto da covid-19. “Uma coisa é trabalho remoto, outra é trabalho isolado”, diz. 

A Microsoft tem um comitê global de crise que reúne profissionais de vários países em áreas como recursos humanos, comunicação e assuntos legais. Tânia integra o grupo. O comitê é ativado sempre que surge uma crise internacional, em decorrência de desastres naturais ou conflitos armados, por exemplo. No caso da covid-19, o comitê assumiu tarefas como deliberar sobre a política de viagens de negócios e outros procedimentos para evitar o contágio. 

As ações de comunicação interna foram reforçadas no país, com a abertura de um canal no Yammer – rede social corporativa que a Microsoft comprou em 2012, por US$ 1,2 bilhão – para que a equipe possa dar opiniões e fazer sugestões. “Nas reuniões de vendas, percebemos que as pessoas queriam falar mais”, diz a executiva. 

As “happy hours”, que ocorrem todas as quintas-feiras no fim da tarde, foram transferidas para a internet. Cada participante pega sua taça de vinho em casa e se conecta aos colegas por videoconferência. Os cafés da manhã entre a direção e as equipes também vão se tornar virtuais, assim como as reuniões gerais, que terão duas sessões on-line, de uma hora cada, por mês. A Microsoft também começou a oferecer sessões virtuais de ioga. Tânia já começou a fazer as aulas – são até quatro por semana. 

A orientação geral é que as pessoas se organizem para manter a rotina equilibrada. “Se não, você acaba trabalhando 24 horas por dia, 7 dias por semana, e isso não é saudável”, diz a presidente da Microsoft. 

Na companhia, saúde mental é um tema tratado sob a perspectiva da diversidade, considerado um pilar gerencial, afirma a executiva. O trabalho é identificar e prevenir as chamadas “deficiências invisíveis”, nas quais se incluem a depressão e outros distúrbios nem sempre fáceis de perceber. A Microsoft já tem preparado um programa de treinamento nessa área. 

Uma das questões trazidas à tona pela covid-19 é como manter a cadência de contratação de pessoal. A Microsoft já usava o recurso de entrevistas virtuais para seu processo de seleção. Agora, avalia como fazer exames admissionais com instalações fechadas e entregar os equipamentos aos novos funcionários. Neste mês, mais profissionais estão se juntando à empresa. Cabe à liderança, diz Tânia, fazer com que essas pessoas se sintam bem-vindas, mesmo que a distância. 

Nos centros de dados, onde ficam os equipamentos que dão suporte à nuvem computacional – o modelo que levou para a internet o armazenamento e o processamento dos dados dos clientes -, a maioria dos funcionários continua a trabalhar fisicamente no local. Só 10% da equipe foi para casa, o inverso do resto da companhia, porque muitos serviços exigem a presença física. “Afastamos quem está nos grupos de risco, realocamos pessoal e reforçamos a higienização”, diz Tânia. A temperatura dos empregados passou a ser medida regularmente e foi proibida a entrada de pessoas que não trabalham nas instalações. 

Com as medidas de isolamento social, os pedidos das empresas para colocar seus negócios na nuvem deu um salto repentino. Há 15 dias, a Microsoft bateu seu recorde em número de clientes que migraram sua infraestrutura para a internet em um único fim de semana. A companhia não revela detalhes desse movimento. 

Tânia tem enviado cartas a governos e empresas para oferecer a plataforma Teams gratuitamente. O Teams combina bate-papo, videoconferência, troca de arquivos e recursos de trabalho colaborativo. Está disponível, sem custo, por seis meses. 

A executiva também começou a fazer um levantamento dos softwares que estão sendo usados para combater o surto em outros países – como Coreia do Sul, Espanha e Itália – com o objetivo de trazer ao Brasil os mais indicados às condições locais. Um dos maiores interesses, afirma, é adotar tecnologias de teste rápido para o novo coronavírus. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/04/08/microsoft-cuida-do-estresse-do-home-office.ghtml

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