Japão surpreende, mas economia continua frágil

O Japão deverá prosseguir com um polêmico aumento no imposto sobre consumo no quarto trimestre, depois de um inesperado crescimento anualizado de 2,1% no primeiro trimestre de 2019.
A notícia, que contrariou as previsões dos analistas de uma pequena contração no PIB, sugere que a economia acelerou o ritmo em relação ao crescimento de 1,6% no quarto trimestre de 2018.
O vigoroso crescimento do PIB vai dificultar qualquer adiamento no aumento do imposto sobre consumo, de 8% para 10%, que o governo do premiê Shinzo Abe prevê para outubro. Um aumento similar em 2014 resultou numa recessão. Pesquisas de opinião mostram que 60% a 70% da população é contra outro aumento.
Os números do PIB não acabam com os temores em relação à saúde da economia japonesa, que vem sofrendo com a desaceleração em seus principais mercados de exportação, especialmente a China.
Muitos detalhes do relatório foram fracos, com as exportações, o consumo e os investimentos das empresas apresentando quedas. Grandes revisões na primeira estimativa do PIB japonês são comuns e a aparente força poderá desaparecer em números posteriores.
“Definitivamente foi mais forte que o esperado”, disse Masamichi Adachi, economista sênior do JP Morgan em Tóquio. “Se você confiar no número do PIB, então ele é bem mais forte em relação ao que está ocorrendo na guerra comercial entre os EUA e a China.”
Dada a fraqueza de outros dados, Adachi estima que o crescimento pode ser algo mais perto de 1%. Mesmo assim, disse, “a principal implicação é que o governo não tem motivo para adiar o aumento da taxa sobre o consumo”.
Na semana passada, o governo japonês revisou – pela primeira vez desde janeiro de 2013 – sua avaliação para a economia de “enfraquecendo” para “piorando”, o mais baixo de cinco níveis.
Uma possível contração da economia era vista como um potencial gatilho para um adiamento da alta do imposto sobre consumo. As atenções agora vão se voltar para a pesquisa Tankan do Banco do Japão sobre as condições dos negócios, que deve ser divulgada em 1o de julho. Esse é o último dado importante sobre a economia antes das eleições para a Câmara Alta do Parlamento, no fim de julho.
A alta do PIB foi impulsionada por um aumento dos estoques e uma queda das importações, que contribuíram para 0,5 e 3,4 pontos percentuais do total, respectivamente. As importações são subtraídas da produção doméstica, de modo que o PIB sobe quando elas caem, embora a demanda menor por importações sugira fraqueza econômica, e não força.
Esses aumentos foram compensados pelo declínio de 1,8 ponto percentual por causa da queda das exportações, 0,2 ponto percentual pela queda dos investimentos e 0,2 ponto pela queda do consumo.
As vendas finais do produto doméstico, sempre tidas como um indicador melhor da demanda básica, cresceram a uma taxa anualizada de 1,5%.
A economia do Japão vem tendo problemas este ano, sem sinais de avanço no cumprimento da meta de inflação de 2% do banco central. Abe insiste em elevar o imposto sobre consumo para reduzir os déficits e bancar o acolhimento gratuito de crianças, a menos que haja um choque da escala da falência do Lehman Brothers.
Mas Abe usou uma linguagem parecida em 2016, pouco antes de adiar o aumento do imposto sobre consumo.
A frágil economia japonesa recebeu uma trégua do presidente dos EUA, Donald Trump, que adiou por seis meses a decisão de impor tarifas sobre as importações de carros do país. Trump chega ao Japão neste sábado para uma visita oficial ao novo imperador Naruhito.

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