Intel entra na corrida pela nova geração de chips

A Intel apresentou a 11a geração de sua linha de microprocessadores Intel Core ontem, oferecendo melhor performance em notebooks mais finos e leves. Enquanto aposta na alta demanda por computadores impulsionada pela pandemia, a empresa busca driblar o atraso de mais de um ano na evolução de sua linha de chips, agora prevista entre o fim de 2022 e o início de 2023. 

A corrida por computadores para trabalhar e estudar em casa colaborou para uma alta de 22% no lucro líquido da Intel no segundo trimestre para US$ 5,1 bilhões entre abril e junho.

Para o mercado, entretanto, os resultados não minimizaram o adiamento dos chips com processo de fabricação de sete nanômetros. A medida, que representa a distância entre um transistor e outro dentro de um chip, é microscópica, mas o impacto para a indústria é grande. 

Logo após o anúncio dos resultados, no dia 23 de julho, as ações da Intel na Nasdaq caíram mais de 20% – de US$ 60 para US$ 47,3 – até o fim do mês. Após o anúncio da 11a geração de processadores com dez nanômetros, os papéis da empresa fecharam a US$ 52,25, com alta de 2,7%. 

A Intel também passou pelo término de um relacionamento de mais de 14 anos com a Apple em junho. Quarta colocada no mercado global de PCs, com 7,7% de participação no segundo trimestre, segundo a IDC, a empresa decidiu desenvolver os microprocessadores da linha Mac internamente. 

A Apple segue carreira solo após ter registrado um avanço de 36% em sua participação de mercado – duas vezes superior ao da HP, primeira do ranking, com alta de 17,7% no período. 

No Brasil, a Intel lida com um aumento de 40% na demanda de chips para computadores no primeiro semestre. “A pandemia ajudou a reforçar o papel que o PC tem em nos manter produtivos e isso gerou uma fortíssima demanda global por máquinas na primeira metade do ano”, explicou Gisselle Ruiz, diretora-geral da Intel. “Os inventários estavam muto magros e, aos poucos, a indústria inteira teve que melhorar a linha de inventário no terceiro trimestre.” A empresa elevou em 20% as entregas para os fabricantes de PCs no terceiro trimestre. 

A empresa também anunciou um selo de qualidade, o Intel Evo, com 17 fabricantes parceiros incluindo Acer, Asus, Dell, Lenovo e Samsung. As especificações incluem avanços na conectividade em redes Wi-Fi, maior duração da bateria e carregamento rápido. 

Pensando na demanda ainda aquecida, a nova geração de processadores chega ao Brasil entre o fim do ano e início de 2021, embarcada em máquinas que chegam a pesar 870 gramas. “O Brasil ficou com uma base instalada de PCs muito antiga e agora, sete ou oito anos depois, começamos a falar de densidade, ter mais de um PC por residência”, disse Gisselle. 

A Intel conta com mais da metade do mercado de microprocessadores para computadores pessoais e servidores no Brasil, segundo a IDC. “Todos os fornecedores estão tentando encontrar seu espaço, mas ainda não vemos muita mudança de ranking para os próximos anos”, afirmou Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa e consultoria da IDC. Segundo ele, o fim da parceria com Apple não tem muito impacto no mercado brasileiro já que a linha Mac é uma das últimas no ranking dos dez maiores fabricantes de PCs. 

Embora a distância do líder seja grande, a AMD já tem os chips com sete nanômetros na praça. “Nosso cronograma de lançamentos tem sido executado de forma consistente e a presença está crescendo em todas as plataformas”, disse Sergio Santos, gerente-geral da AMD no Brasil. Segundo ele, a empresa viu crescimento acelerado tanto na demanda por chips para PCs quanto no mercado corporativo para prestadores de serviços de telecomunicações e computação em nuvem, por exemplo. 

Sakis destacou que empresas que trabalhavam com alta capacidade de processamento para nichos abrem caminho no mercado corporativo. “Fornecedores que estavam focados no segmento de games, no passado, começaram a ganhar espaço com máquinas para processamento de imagens em segmentos de engenharia e arquitetura, por exemplo”, afirmou. 

A fornecedora de microchips e softwares de processamento gráfico Nvidia cresceu no mundo dos games com a proposta de melhorar a experiência de jogos além do Atari, nos anos 80. No último trimestre, entretanto, o segmento corporativo passou o game em participação nos resultados, disse Marcio Aguiar, diretor da divisão Nvidia Enterprise para América Latina. “Aplicações de inteligência artificial, incluindo serviços de interação por voz e análise de imagens, estão em alta e também necessitam do tipo de processamento que oferecemos”, observou. 

Aguiar reforçou que “a Nvidia não quer brigar com ninguém”, mas ampliar a presença no mercado corporativo também é uma garantia contra eventuais concorrências com os parceiros no mercado de PCs. 

Ansiosa pela chegada da tecnologia 5G ao Brasil, a Qualcomm navega no mercado de smartphones e tablets, em que a Intel nunca mergulhou, mas vai abrindo alas em notebooks. “O smartphone tem evoluído de forma bastante rápida e isso nos permite também trazer uma plataforma para computadores conectados”, disse Helio Oyama, diretor de produtos da empresa. Entre os parceiros para notebooks estão Samsung, Lenovo e Microsoft Surface. 

“Com a arquitetura Arm que usamos em nossos processadores para dispositivos móveis, o desempenho é de mais de 20 horas de bateria com streaming ininterrupto”, disse Oyama. A arquitetura Arm, que rivaliza com a da Intel, também foi a escolha da Apple para desenvolver seus próprios microprocessadores para Mac. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/09/03/intel-entra-na-corrida-pela-nova-geracao-de-chips.ghtml

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